Rita Fernandes
"Estive um ano a aprender até apresentarmos a primeira colecção de fios especiais”.
Rita Fernandes
T20 Maio 2017
Emergente

Jorge Fiel

Rita Fernandes
“Estive dentro e estive fora. Agora é aqui que eu quero estar”.

Só à terceira tentativa Rita Fernandes encontrou o rumo da sua vida mas, deitou finalmente âncora na Mundifios.

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or duas vezes teve de introduzir uma nova direcção no GPS da sua vida. Mas à terceira foi de vez. Tinha 30 anos e dois filhos quando resolveu deitar âncora na Mundifios – a maior trading ibérica de fios, fundada pelo pai – e tomar em mãos o projecto de construir uma fiação inovadora a partir de uma velha fábrica e de um montão de máquinas bem mais velhas do que ela.

“Estive dentro e estive fora. Agora é aqui que eu quero estar”, decidiu Rita Fernandes, no início da década, após ter experimentado trabalhar na empresa da família e andar por aí fora, entre Vila das Aves, Creixomil e Ílhavo, a dar aulas de Português e Inglês.

Rita, 38 anos, nasceu e cresceu em Guimarães, numa família com pergaminhos na indústria têxtil (o bisavô já andava metido nos trapos), que começou a contaminá-la logo na idade da inocência – nas férias ia para Mundifios ajudar o pai a atender os telefones.

Apesar de lhe correr sangue têxtil nas veias, a ideia fixa de ser advogada (“talvez magistrada”, concede) habitou-lhe a cabeça ao longo da escolaridade obrigatória, feita entre a escola das piscinas, a João Meira e a escola industrial. Não espanta, pois, que se tenha matriculado em Direito, na Católica do Porto.

Um ano bastou para lhe tirar da cabeça a ideia de ser advogada. Foi uma chamada à realidade. “Tive a certeza absoluta de que não era aquele o curso que queria”, recorda Rita, a propósito do terrível mas esclarecedor ano lectivo de 1997/98. “Sempre lidei muito mal com o insucesso. Não consigo ser feliz quando sinto que estou a desapontar as pessoas de que gosto”, diz. Uma conversa séria com os pais, ajudou-a a recalcular a rota. “Explicaram-me que não adiantava nada insistir. Que eu tinha de fazer o que gostava. Mas tinha de tirar um curso”.

O plano B foi a licenciatura de Português-Inglês, a que se seguiu no final do curso uma nova conversa séria em família. “Eu queria ir logo para a Mundifios. O meu pai tentou dissuadir-me. Tinha muito gosto em que eu fosse trabalhar com ele. Mas como essa porta estaria sempre aberta, se calhar era melhor eu primeiro ir ver como era isso de ser professora”.

A argumentação de Joaquim Fernandes era muito razoável mas não era isso que, aos 22 anos, a impetuosa Rita queria ouvir. Insistiu com o pai que queria ir já para a empresa aprender os segredos do negócio dos fios. E ele fez-lhe a vontade.

“Instalei-me na sala do meu pai, numa secretária ao lado da dele, com a tarefa de o ajudar nas compras. Estava cheia de medo de não estar à altura das responsabilidades. Pedia preços de fios e depois de os reunir apresentava-os para decidirmos onde comprar. Nunca esquecerei o meu primeiro erro. Fechei contrato em USD com um fornecedor brasileiro e confirmei-o em euros. Fiquei tristíssima. Então o meu pai, que tem uma paciência inesgotável e uma enorme capacidade pedagógica, ensinou-me a aprender com os erros e a não me precipitar – tinha de pensar, escrever, analisar e conferir tudo com calma”.

Nos anos seguintes, Rita fez-se mulher e empresária. Casou. Engravidou por duas vezes. Aprendeu passando pelos sectores mais importantes da empresa. E, dando o braço a torcer, experimentou ser professora.

“Adorei dar aulas. Foi uma experiência que me realizou muito. Gostei de ver os miúdos a evoluir comigo e de disciplinar os indisciplinados. Eu era uma professora muito rigorosa que detestava baldas…”.

Em 2010, com 30 anos, resolveu levar o rigor das salas de aulas para o chão de fábrica da Inovafil, a fiação criada pela Mundifios a partir dos activos da ex-Fiação de Covas. Havia tudo para fazer. Não havia laboratório. O planeamento era feito em cima do joelho, numa folha A3.

“Foi necessário fazer tudo de novo. Reequipar a fábrica, mudar a mentalidade das pessoas e a forma de trabalharem. Na Mundifios tínhamos o know-how de organização de empresa. Tratou-se de o aplicar com rigor na Inovafil. O mundo do fabrico de fios especiais e fantasia era de um modo geral novo para nós. Estive um ano a aprender até apresentarmos a primeira colecção de fios especiais”, conclui Rita, a ex-professora de inglês que se apaixonou pela indústria – “reconheço que fiquei com o bichinho da produção…”, confessa.

Cartão Do cidadão

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