Squarcione
Palavra italiana que significa rasgão e simboliza a rutura com o passado.
Mónica Ribeiro
T25 Outubro 2017
Emergente

Jorge Fiel

Mónica Ribeiro
“Os meus pais não nos deixavam ir à linha de produção. Diziam que o mundo têxtil era muito incerto..."

Mónica Ribeiro não tinha dúvidas do que queria fazer no futuro. Queria ser advogada. De causas, não de negócios. E conseguiu. Mas a esta profissão, teve de juntar a de empresária e hoje, concilia os trapos com os tribunais.

E
E

la não tinha a mínima das dúvidas. Queria ser advogada – e não uma advogada qualquer – queria ser uma advogada de causas, não de negócios. E reconhece que por detrás desta ideia fixa estão as n horas que passou, durante a adolescência, agarrada à televisão a papar séries de advogados, como o LA Law.

Mónica Ribeiro, 39 anos, a mais nova das três filhas de Maria Emília e António Ribeiro, nasceu em Penafiel numa família onde o sangue têxtil corre nas veias (o avô era alfaiate e dois tios são empresários) e cresceu ao lado da fábrica de confeção dos pais (AJ Ribeiro), mas nunca se imaginou a trabalhar lá.

“Os meus pais não nos deixavam ir à linha de produção. Diziam que o mundo têxtil era muito incerto. Queriam a todo o custo que nós as três tirássemos um curso superior e não caíssemos na asneira dos nossos primos que deixaram de estudar para irem trabalhar na fábrica dos pais”, conta Mónica.

Emília e António souberam levar a água ao seu moinho, pois as suas três filhas licenciaram-se e construíram carreiras independentes: Sara, 41 anos, é economista e quadro superior num banco, e Sónia, 39 anos, fez Gestão, tem dois gabinetes de contabilidade e trabalha com Mónica na Squarcione.

Gostou do curso de Direito, do qual se desembaraçou sem um único chumbo e arranjando tempo para ganhar um hobby – o tiro desportivo. “Uma vez o meu pai desafiou-me a ir com ele. Achei graça, ele garantiu que eu tinha jeito – e continuei”, explica Mónica, que representou Portugal no Mundial 2014 (“Ficamos em quarto lugar, a um prato das italianas”), conquistou a medalha de ouro no Prémio Fitasa e faz parte do Conselho de Justiça da Federação de Tiro com Armas de Caça.

No final do curso, fez o estágio e logo na primeira oficiosa (um caso de uma dívida a um empreiteiro) ganhou mas aprendeu os espinhos do ofício, pois no final do julgamento foi ameaçada com uma arma, pela parte contrária, no parque de estacionamento.

Acabado o estágio, inscreveu-se na Ordem, abriu um escritório em Penafiel (o pai deu uma ajuda, pagando os primeiros três meses de renda) e ganhou logo o primeiro caso, invocando o direito ao sossego do seu cliente, que morava num apartamento paredes meias com um café onde a freguesia fazia barulho até às tantas.

Estava Mónica posta em sossego no seu escritório, quando foi convocada para uma reunião familiar. Estávamos em 2006, a crise instalara-se no setor e os pais perguntavam às filhas o que elas achavam que se devia fazer? Fechar, vender, tentar recuperar?

“Estudamos a empresa para ver o que estava a falhar. O problema é que estava dependente de um único cliente, a Maconde, e em regime de subcontratação. Concluímos que a salvação passava pela exportação”, recorda Mónica.

Em 2007, criaram a Squarcione – palavra italiana que significa rasgão e simboliza a rutura com o passado – que começou por funcionar como agente da fábrica dos pais. Os primeiros tempos não foram fáceis. A primeira feira, em Brno (Rep. Checa) correu muito mal, “mas acabou por ser uma boa experiência pois aprendemos a dinâmica da coisa”. Em 2008, aguentaram a travessia do deserto – “As pessoas diziam que eu era maluca em meter-me nos trapos”). Até que na PV de Fevereiro de 2009 sentiram que tinham atingido o ponto de viragem, quando receberam encomenda de duas grandes empresas francesas (que ainda são clientes) e começaram a vender blazers para o El Corte Inglès.

Entretanto subiram na escala de valor, fazendo coleções e equipando-se com uma pequena linha produção (“Ajuda-nos a trabalhar para nichos de mercado. Os mínimos da AJ Ribeiro são 300 peças. Os nossos são 20…”). E a fábrica dos pais já exporta 40% da produção.

“No início, não fazíamos a mínima ideia daquilo em que nos estávamos a meter. É muito difícil trabalhar a área comercial. É preciso perceber os clientes. E apesar de saber que estou em dois mundos loucos, não estou nada arrependida”, conclui esta advogada e empresária que consegue conciliar trapos e tribunais.

Cartão Do cidadão

Família Casada com um jurista, que trabalha na ERS, têm um filho, Francisco, com dois anos e meio  Formação Curso de Direito (Lusíada) Casa Vivenda em Penafiel  Carro BMW 316  Portátil Surface Telemóvel Samsung 6 Edge Note Hóbis Tiro, natação (nada meia hora todos os dias)  e brincar com o filho  Férias No Verão, faz 15 dias de praia, em Albufeira, durante o ano vai fazendo short breaks na Europa Regra de ouro “Acreditar é vencer”

Partilhar