Fátima Santos
"Não foi simples vencer os obstáculos burocráticos, ao mesmo tempo que voltava a pôr a fábrica a trabalhar."
Fátima Santos
T18 Março 2017
Emergente

Raposo Antunes

Fátima Santos
"Dei o passo em frente ao ver as dificuldades em que as pessoas estavam..."

Foi na adversidade que a capacidade de liderança inata de Fátima Santos, 38 anos, se revelou em todo o seu esplendor. A adversidade deu-se há três anos quando a Maritex, a têxtil da Trofa onde ela trabalhava, fechou as portas.

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oi na adversidade que a capacidade de liderança inata de Fátima Santos, 38 anos, se revelou em todo o seu esplendor. A adversidade deu-se há três anos quando a Maritex, a têxtil da Trofa onde ela trabalhava, fechou as portas. Foi o momento para surgir a predestinada que assumiu a liderança de todo o processo – nos tribunais, na busca de investidores e de clientes. Dois anos volvidos, a Maritex estava morta e enterrada, emergindo em seu lugar a MLC-Modern Lining Company.
Filha de uma doméstica e de um litógrafo da Âmbar, Fátima inscreveu-se num curso de contabilidade e gestão, mal acabou a escolaridade obrigatória. “Senti que precisava de aprender mais”, explica. Em 1997, com pouco mais de 18 anos, entrou para a contabilidade da Maritex, uma têxtil histórica, fundada nos anos 30, que fazia tinturaria, tecelagem e acabamentos.
“Passados dois ou três anos comecei a envolver-me no processo produtivo. Para perceber a contabilidade, necessitava também de entender a mecânica da produção”, conta. Com o correr do tempo, passou conhecer a fábrica e as pessoas que lá trabalhavam tão bem como as suas mãos. E a relação de amizade estabelecida com os donos não lhe tolheu o olhar crítico. “Em 2013 senti que a falta de articulação entre os irmãos e herdeiros do fundador estava a prejudicar a empresa”, recorda. O diagnóstico estava certo. Em Março de 2014, a fábrica fechou, atirando 60 trabalhadores para o desemprego. Um mês depois, foi declarada a insolvência.
“Dei o passo em frente ao ver as dificuldades em que as pessoas estavam, ao ter a noção de que havia mercado para o que produzíamos e ao perceber que tínhamos um bom parceiro que se preparava para regressar à Alemanha”. E que passo! No mesmo dia em que foi declarada a falência, Fátima comunicou ao administrador da insolvência que lhe ia apresentar um projecto para fazer renascer a empresa.
Nessa altura, já sabia que o parceiro alemão estava disposto a ficar. A garantia foi-lhe dada por Wolfram Weindel, hoje com 53 anos, engenheiro têxtil e economista, que na Trofa fazia o controlo de qualidade em representação da Devetex, a empresa alemã para a qual a Maritex trabalhava em private label.
Ex-director de compras e criativo da Hugo Boss, Wolfram conhecia profundamente o mercado alemão e muitos potenciais clientes, pelo que a sua ajuda ao projecto foi preciosa – até o novo nome (MLC) foi obra dele.
Não foi simples vencer os obstáculos burocráticos, ao mesmo tempo que voltava a pôr a fábrica a trabalhar. Contratou metade dos trabalhadores que foram despedidos. Socorreu-se de amizades pessoais para lhe ligarem a electricidade e o gás. Desdobrou-se em reuniões com o administrador da insolvência e as autoridades judiciais. “Na primeira assembleia de credores, já estávamos a laborar. Fizemos um contrato e pagávamos uma renda mensal pela utilização dos equipamentos e pelas instalações”, recorda.
Quando tudo parecia que ia dar certo, foi confrontada com uma nova adversidade – “O administrador da insolvência disse-nos que já não fazia contrato nenhum”. Fátima pegou na sua advogada e foram apresentar o caso à juíza do Tribunal de Santo Tirso que desbloqueou o problema. Uff!
“Foram muitos dias a levantar às seis da manhã e a deitar à uma ou às duas. Mesmo no pouco tempo livre não conseguia descansar. Estava sempre a pensar: como é que vou conseguir sair disto?”. Encontrou a resposta no seu ADN. “Desde criança estou habituada a lutar por aquilo que quero”.
E teve de continuar a lutar, porque nem ela nem o Wolfram possuíam o capital necessário. A solução foi recorrer à Explore Investments (gestora do Fundo Revitalizar Norte) que ficou com 51%, ficando o resto das acções repartidas por Fátima, Wolfram e Jorge, marido de Paula Pinto, a advogada.
O processo judicial começado em Abril de 2014 fechou a 29 de Abril de 2016 com a escritura da MLC. Agora, Fátima começa a acalmar. Não faltam encomendas, a empresa cresce e ela está optimista: “Se calhar no mês que vem, quando se completarem três sobre o início desta odisseia, já vou poder dormir descansada umas horas…”

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