Elementum
A marca que tem vindo a construir é o resultado prático dos seus estudos em Design Sustentável
Daniela Pais
T24 Setembro 2017
Emergente

Jorge Fiel

Daniela Pais
Ainda sonhou ser cientista mas aos 12 anos a sua vocação falou mais alto

Ainda ponderou ser cientista mas cedo percebeu que o seu caminho estava no design. À pergunta da sua tese de mestrado - "Como é que o design pode contrariar o enorme desperdício da fast fashion?”, respondeu com a criação da marca Elementum. Multifuncionalidade é a palavra chave da Elementum. Todas as peças desenhadas por Daniela têm quatro funções - podem ser usadas de quatro formas diferentes. São um quatro em um. “Com roupas multifuncionais, as pessoas consomem menos e o ciclo de vida de uma peça é maior, pois pode ser usada de quatro formas diferentes...", refere.

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omo é que o design pode contrariar a fast fashion, esse brutal desperdício de recursos e agressão ao meio ambiente que consiste em usar uma peça uma ou duas vezes – meia dúzia de vezes no máximo – antes de a deitar fora?

Neste ano da graça de 2017, há na fileira têxtil um montão de gente preocupada (ou que pelo menos aparenta estar…) com o fenómeno fast fashion e empenhada em dar resposta a esta pergunta.

Sustentabilidade, respeito pela ambiente, reciclagem, têxteis verdes e economia circular estão agora na ponta da língua de quase toda a gente. Contudo, estas palavras e conceitos estavam ainda muito longe de entrar na moda quando, há um dúzia de anos, Daniela Pais resolveu fazer as malas e montar o seu quartel general em Eindhoven, cidade escolhida a dedo por ser uma das poucas academias europeias a oferecer um mestrado em Design Sustentável.

Mas o melhor será talvez contar a história desde o princípio, recuando até 1978, o ano em que Daniela nasceu em Corroios, na Outra Banda, filha única do matrimónio entre a contabilista de uma agência de viagens e um engenheiro metalúrgico que fez carreira entre a Lisnave a Setenave.

Daniela, que está agora nos 39 anos, ainda sonhou ser cientista, “para descobrir coisas”, antes de se decidir ser estilista, vocação que pode ter despertado quando tinha 12 anos e participou (sem sucesso) num concurso de desenhos de Carnaval promovido pela RTP.

Fez uma data de testes vocacionais (os pais queriam ter a certeza de que isso do estilismo era mesmo uma vocação a sério e não apenas um capricho passageiro), que deram todos Humanidades ou Artes, antes de se matricular em Design de Moda, um curso de onde trouxe muita bagagem conceptual mas poucos conhecimentos práticos.

“Em Portugal separa-se muito a teoria da prática. Os cursos são muito teóricos. A prática aprende-se depois. Na Holanda não é assim”, compara Daniela, que foi muito rápida a aprender, pois pouco tempo depois de concluir a licenciatura já estava a montar uma empresa (Krv Kurva) a partir de uma mala, concebida por ela e Jorge Moita, que ganhou o Prémio Nacional de Design em 2002.

A mala, batizada La.Ga, teve um imenso sucesso nacional e internacional (esteve em grande destaque no Pavilhão de Portugal da Expo de Tóquio) mas três anos volvidos, por razões que Daniela não se alonga a explicar, deixou o negócio e emigrou para a Holanda.

A Elementum, a marca de moda sustentável que ela tem vindo a construir nos últimos dez anos, é o resultado prático dos seus estudos em Design Sustentável, a tese de mestrado e a resposta à pergunta “Como é que o design pode contrariar o enorme desperdício da fast fashion?” .

“Escolhi a palavra Elementum porque todas peças que desenho são elementos que se podem mudar. A mesma peça pode, por exemplo, ser usada como vestido, camisola, cachecol ou colete. É uma espécie de roupa em evolução”, conta Daniela que após ter concluído o mestrado, em 2007, ficou a viver em Eindhoven, de onde retornou apenas em Dezembro passado. “A minha coleção é toda ela fabricada em Portugal e eu precisava de estar mais próximo da produção. Essa foi uma das razões para o meu regresso”.

Multifuncionalidade é a palavra chave da Elementum. Todas as peças desenhadas por Daniela têm quatro funções – podem ser usadas de quatro formas diferentes. São um quatro em um.
“Com roupas multifuncionais, as pessoas consomem menos e o ciclo de vida de uma peça é maior, pois pode ser usada de quatro formas diferentes. É como se tivesse comprado quatro peças diferentes pelo preço de uma”, afirma Daniela que se instalou com a família nas Caldas da Rainha, cidade a que não a ligava qualquer laço, após um processo rigoroso de escolha. “Queríamos uma cidade pequena, onde pudéssemos andar de bicicleta, perto do mar, com tradição no design, e que não ficasse muito longe de Lisboa”, conclui Daniela Pais, a designer de roupas mutantes.

Cartão Do cidadão

Família Casada com o designer holandês David Luxemburg, têm três filhos: Eden, Daan e Tamara Formação Curso de Moda da Faculdade de Arquitetura de Lisboa, mestrado em Design Sustentável e Social pela Academia de Design de Eindhoven Casa Vivenda nas Caldas da Rainha Carro Toyota Aygo (“já não cabemos todos lá dentro…”)  Portátil  Mac Telemóvel Samsung S6 Hóbis Dança contemporânea (mas desde que nasceu a Tamara escasseia-lhe o tempo…)  Férias ”Dantes a rotina era vir a Portugal nas férias, à emigrante. Este ano vamos acampar, não sei ainda bem onde” Regra de ouro  “Luxo é ter coisas simples, como tempo e espaço”

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