Célia Macedo
Não se limitou a aprender todos os segredos do negócio. Também traçou um rumo estratégico.
Célia Macedo
T26 Novembro 2017
Emergente

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E o céu caiu
Em 2010, o pai foi hospitalizado e ficou incomunicável. Aí, em plena crise, Célia assumiu a Intecol.

Muito provavelmente, tal como aconteceu a Obélix, Célia caiu no caldeirão da poção mágica quando era criança - e isso explica como é que logrou manter com a cabeça fora de água a Intecol, cujo leme herdou em circunstâncias dramáticas e numa conjuntura adversa.

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s irredutíveis gauleses da aldeia de Astérix e Obélix só têm medo que o céu lhes caia em cima da cabeça. Pois Célia nem disso tem medo – até porque o céu caiu-lhe mesmo em cima da cabeça e ela sobreviveu. Foi em 2010. Um grave problema de saúde atirou para uma cama de hospital o pai, Luís Macedo, que ficou largos meses incomunicável – e tinha na cabeça toda a parte comercial e financeira da Intecol, que fundara em 1985.

“Os primeiros seis meses foram muito complicados. Trabalhei os sete dias da semana. De 2ª a 6ª, mantinha a fábrica a laborar. E passava os fins de semana a perceber as partes do negócio que não dominava”, recorda Célia, filha única de Luís.

O céu caiu-lhe em cima da cabeça em plena crise têxtil (“Sempre que comprava fio, o preço estava mais caro, pois o algodão não parava de subir”) e com o país intervencionado pela troika. Célia assustou-se mas não se atrapalhou.

Nascida em Joanesburgo, onde os pais (ambos naturais da Póvoa) se conheceram, veio para Portugal com três anos, quando os pais – Gracinda tinha um salão de cabeleireiro e Luís era empresário no setor do mobiliário – concluíram que a África do Sul não era o país ideal para a filha estudar e crescer.

Os Macedo deitaram âncora na Póvoa, onde o pai, depois de ter encarado dedicar-se à criação de coelhos, acabou por investir as poupanças na produção de collants, entusiasmado por um cunhado que trabalhava na Têxtil António Falcão.

Em miúda, Célia gostava de ir para a fábrica, que ficava ao lado de casa, e de andar no meio das empregadas, a ajudar a fazer as caixinhas com os collants dentro. Mas não lhe passava pela cabeça que o seu futuro ia passar por ali. Quando chegou a altura, escolheu o curso (Relações Internacionais), que lhe parecia mais adequado ao sonho de fazer carreira na diplomacia.

Concluído o curso, só sabia o que não queria. Não queria ir trabalhar para a fábrica do pai nem para a banca – mas quis o destino quis que o seu primeiro emprego remunerado fosse no Crédito Agrícola, onde se demorou apenas seis meses antes de se apaixonar pela formação.

Em 2002, licenciada e casada, estava posta em sossego a dar formação quando o pai a chamou. Precisava dela para supervisionar os trabalhos de certificação da empresa com a ISO 9001. Se a Célia não aceitasse, teria de contratar uma pessoa.

“Vim contente. Até porque podia continuar a dar formação, que era a menina nos meus olhos”. recorda Célia, que em nove meses garantiu a certificação da Intecol, onde ficou, ocupando-se da Qualidade e Recursos Humanos, até que oito anos depois o céu lhe caiu em cima da cabeça, com o internamento de urgência do pai – e o seu afastamento forçado e prolongado da empresa.

Muito provavelmente, tal como aconteceu a Obélix, Célia caiu no caldeirão da poção mágica quando era criança – e isso explica como é que logrou manter com a cabeça fora de água a Intecol, cujo leme herdou em circunstâncias dramáticas e numa conjuntura adversa.

Não se limitou a aprender todos os segredos do negócio. Também traçou um rumo estratégico, que contemplou a aposta em produtos diferenciados (“Se fazemos o mesmo que os outros, estamos condenados à batalha do preço”) e acabar com a dependência das grandes cadeias de distribuição, em particular de um cliente holandês que chegou a pesar 80% na faturação da Intecol.

A estratégia estava a resultar, quando uma boa notícia (o restabelecimento do pai e o seu regresso à empresa) acabou por ter a nefasta consequência de proporcionar um choque de gerações.
Como Luís não estava sintonizado com os novos ventos, Célia achou por bem afastar-se. Andou por fora dois anos, entre o venda de imobiliário, a exportação de mobiliário e a direção comercial de uma têxtil. Até que o pai caiu nele – e chamou-a de volta, entregando-lhe o posto de comando.

No início deste ano, Célia retomou a revolução que iniciara na Intecol – riscou os supernercados da carteira de clientes, está a fornecer o SNS inglês com meias medicinais, tem em curso a duplicação da capacidade instalada e prepara o lançamento de uma nova marca própria. Medo? Ela não tem medo de nada, nem de ninguém. “É acreditar e andar para a frente”.

Cartão Do cidadão

Família Casada com Bruno Mendes, ex-jogador do Rio Ave, tem uma filha, Letícia, 13 anos, e um enteado, Gabriel, também 13 anos Formação Licenciada em Relações Internacionais (UM, 2001), fez os cursos de Formação de Formadores e de Gestão de Formação, e tem uma pós gradução em Recursos Humanos (EGE) Casa Apartamento na Póvoa de Varzim  Carro Volvo S 60 Portáteis Mac e HP Telemóvel iPhone Hóbis Estar com os amigos, ler e desporto (faz Pilates)  Férias Para descansar é na praia. Este ano estiveram na praia de Galapinhos, em Tróia Regra de ouro “Não ter medo de nada nem de ninguém. É acreditar e andar para a frente”

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