A gestora do Tempo
"Sou bastante eficiente a gerir o tempo. E muito focada em tudo quanto é quantitativo e económico"
Carla Lobo
T37 Novembro 18
Emergente

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Sempre com um plano B
Como falhou por algumas décimas a entrada na FEP, accionou o plano B e fez Administração Pública na U.Minho

Não estava falado, mas escrito em tinta invisível, que mais cedo ou mais tarde Carla Lobo iria concretizar o sonho de ser gestora da empresa da família, a R.Lobo. Em 1998, a têxtil apenas exportava 40% do seu volume de negócios. Dez anos volvidos, em 2008, essa percentagem subira para 70%. Este ano já está bem para lá dos 90%.

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ra uma ideia fixa que tinha desde miúda – ser gestora de uma empresa. “Nunca me imaginei a fazer outra coisa”, confessa Carla Lobo, 43 anos de idade, 22 de têxtil, uma aventura integralmente vivida na R. Lobo, a empresa de Guimarães especializada em jerseys circulares que o pai, Rui, ex-diretor comercial de uma fábrica em Felgueiras, fundou em 1991.

Não teve de fazer muitos desvios num caminho de antemão traçado. Apenas alguns ajustamentos, exigidos por aqueles acasos em que a vida é fértil, coisas de somenos importância para ela, mulher prevenida, habitualmente munida de um plano B – e não raro também de um plano C, não vá o diabo tecê-las.

Como falhou por algumas décimas a entrada na FEP (no final de um percurso escolar em que passou pelas escolas João de Meira, Martins Sarmento e Francisco de Holanda), accionou o plano B e fez Administração Pública na Universidade do Minho.

Tinha 23 anos, quando, no final do curso, recebeu o primeiro salário, como monitora da cadeira de Contabilidade de Gestão, e iniciou uma carreira académica – em que fez escala na Católica antes de deitar âncora no Instituto Politécnico do Cávado do Ave – interrompida no ano passado, quando já era professora adjunta. “Era demais – as aulas, as minhas filhas, a fábrica”, explica.

Mas no início, quando a têxtil era menos exigente e ela não tinha concentradas nas suas mãos todas as responsabilidades da empresa, Carla conseguiu ser multitask, num alucinante final de século em que além de dar aulas, debutou como estagiária na R. Lobo, constituiu família e ainda arranjou tempo para fazer o mestrado e progredir na carreira académica.

“Sou bastante eficiente a gerir o tempo. E muito focada em tudo quanto é quantitativo e económico – nos rácios e números”, diz a gestora, olhando-se ao espelho.

Não estava falado, mas escrito em tinta invisível, subentendido entre pai e filha (ainda por cima única), que mais cedo ou mais tarde ela iria concretizar na R. Lobo o sonho de ser gestora de uma empresa. Era inevitável. “Não estou nada arrependida. Ao fim e ao cabo ajusta-se ao plano”, lembra.

“Comecei – com muita paciência, pois trabalhar com o pai nunca é fácil 🙂 – a aprender as diversas áreas de negócio. Primeiro as compras, depois a parte comercial, finalmente a financeira que é a que mais me atrai. Adaptei-me bem, gosto do que faço”, garante.

1996 foi o ano em que iniciou o estágio na R. Lobo. Focando-nos nos números, como ela faz, não é difícil concluir que já leva na têxtil 22 anos, ou seja mais de metade da sua vida. “Já aprendi muita coisa: Mas ainda tenho outro tanto para aprender”, avisa.

2003 foi o ano em que, por razões de saúde, o pai teve de se afastar – e ela, subitamente, teve de se ajustar a este solavanco na vida e assumir as rédeas de uma pequena empresa que se preparava para enfrentar a tempestade desencadeada pela adesão da China à OMC.

A aposta na exportação e a subida constante na cadeia de valor foram as armas que usou para manter a cabeça fora de água. Em 1998, a R.Lobo apenas exportava 40% do seu volume de negócios. Dez anos volvidos, em 2008, essa percentagem subira para 70%. Este ano já está bem para lá dos 90%.

“Por o foco nas exportações foi uma decisão acertada. Reforçamos a equipa comercial e começamos a ir às grandes feiras internacionais, à procura de novos clientes. Já não estaríamos cá se não fosse essa decisão”, refere Carla, acrescentando que a ITV mudou muito nestes últimos 22 anos: “Se o setor não tivesse evoluído como evoluiu, hoje já não havia cá têxtil. Tínhamos sido varridos”.

“Quando comecei, o nosso trabalho era incomparavelmente menos exigente. Havia tempo para produzir. Não havia o stress que há hoje. Agora temos de estar muito mais focados. Não há margem para erros. Quando sentem que deixamos de ser parceiros de confiança, os clientes vão-se embora”, conclui Carla Lobo, uma gestora que faz questão de ser eficiente a gerir o tempo – porque sabe que o tempo é o único capital das pessoas que têm como fortuna a sua inteligência.

Cartão Do cidadão

Família Casada com um engenheiro mecânico (conheceram-se na universidade), têm duas filhas, a Leonor, 15 anos, que gosta de Biologia, e a Clara, 11 anos  Formação Licenciada em Administração Pública (UMinho), fez o mestrado em Contabilidade de Gestão e é especialista em Contabilidade e Auditoria  Casa Apartamento junto ao Parque da Cidade, em Guimarães  Carro Carrinha BMW 350  Portátil Asus (“uso pouco”) Telemóvel iPhone 6  Hóbis “Os básicos: divertir-me com a família, jantar com os meus amigos” Férias Este ano estiveram em Aix-en-Provence, no sul de França  Regra de ouro  “Ter sempre um Plano B (e quando não tenho fico zangada…)”

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