Um novo rumo
"Aqui é tudo mais dinâmico, temos de estar sempre 100% atentos a todos os pormenores de um produto"
Bárbara Machado
T40 - Fevereiro 19
Emergente

T

Passo a passo
Começou pelas amostras. Agora está no design. Seguem-se o planeamento e o departamento comercial

Os chineses acreditam que cada coisa, animal e pessoa vem ao mundo com o seu caminho traçado - o seu próprio tao. Se isso for mesmo verdade, o encontro de Bárbara com o tao que lhe estava marcado deu-se quando o pai, Alberto Pimenta Machado, fundador e CEO da Villafelpos, a convidou para jantar, “pois temos de falar”,  algures no início do Verão do ano passado. Não era preciso ter uma bola de cristal para adivinhar o tema da conversa…

À
À

mesa do Cafeína, o pai foi direto. Apesar de estar em excelente forma (como o atestam o facto de fazer surf, ioga e dar grandes passeios de bicicleta), Alberto já está mais perto dos 60 do que dos 50 e desde miúdo habituou-se a não estar sempre a olhar para trás, para não se atrasar, ao contrário do que sucede à maior parte das pessoas que pensa 90% nas coisas do passado, 7% nas do presente, o que lhes deixa apenas 3% do seu tempo para prepararem o futuro.

“Começou por me dizer que já tinha 56 anos, acabara de investir bastante a comprar muitos teares e precisava de saber como era o futuro. E concluiu que eu tinha ir para lá trabalhar”, recorda Bárbara, 27 anos, que estava posta em sossego como advogada na Montalvão Machado & Associados, integrada na equipa que tratava do Millennium BCP.

Foi parar a Direito um bocado por exclusão de partes. Durante o Secundário, feito no Garcia de Orta, a sua primeira opção, que era Economia, foi prejudicada pela má relação que tinha com a Matemática – e acabou por ir para Direito, um curso abrangente, que começou como um recurso e acabou por ser uma paixão.

“Nessa altura nem sequer me passava pela cabeça vir para a Villafelpos”, confessa Bárbara, que tinha feito os seus primeiros dinheiros ainda adolescente, a trabalhar como hôtesse em congressos, no Estádio do Dragão, em inaugurações ou shoppings.

Concluído o curso, feito um mestrado em Direito Fiscal na Católica, Bárbara estagiou na Montalvão Machado & Associados, onde acabou por ficar como advogada, depois de inscrita na Ordem.

“A decisão foi muito difícil, pois eu gostava muito do que estava a fazer”, explica Bárbara, que após o desafio do jantar no Cafeína teve o Verão de 2018 para pensar. Foi de férias para o México com o namorado. E no regresso, após muita ponderação, disse ao pai que sim. “Tive uma completa liberdade de escolha”, esclarece. Afinal os chineses devem ter razão – e ela encontrou o seu tao.

A Villafelpos não lhe era completamente estranha, pois tinha uma avença para tratar das questões jurídicas da empresa. Em outubro, iniciou um plano de sucessão, com a duração prevista de quatro anos, definido por um consultor especializado. “Não fui atirada aos leões”, adverte.

Começou pelas amostras, para ter uma noção dos produtos. Agora está no design. Lá mais para a primavera muda para o planeamento, Depois será a vez do departamento comercial. Tudo foi desenhado a régua e esquadro por forma a que no outono de 2022 ela esteja preparada para assumir o leme de uma têxtil lar que ambiciona fazer metade do seu volume de negócios (13 milhões de euros) com marcas próprias.

Bárbara já começou a acompanhar o pai (que trata das compras) às reuniões com os fornecedores de fios. E o mês passado estreou-se na Heimtextil (“Estou a adorar. Não vinha com grandes expectativas mas a feira está a surpreender-me”, contou). Continua a dar uma perninha no Direito, dando apoio judiciário em casos fiscais, de insolvência, ou de família e menores. Manter-se como advogada, fazendo estes biscates, ficou acautelado quando disse que sim ao pai no final do verão passado – mas ela sabe que um dia vai ter de por um ponto final a essa fase da sua vida.

“É completamente diferente do que eu estava habituada a fazer, que era estar sentada a ler e escrever. Aqui é tudo mais dinâmico, temos de estar sempre 100% atentos a todos os pormenores de um produto. Estou a formatar o meu cérebro para esta nova atividade. Mas se há coisa que aprendi com o curso e a prática de Direito é a não ter medo de nada. Quando me dizem ‘não sabes no que te estás a meter’ isso entra-me a 100 e sai-me a 200. Não me arrependo da decisão que tomei. Sei que vou conseguir”, conclui esta advogada que tinha 26 anos quando encontrou o seu tao.

Cartão Do cidadão

Família Vive com mãe e trabalha com o pai. É a mais velha de quatro irmãos  Formação Licenciada em Direito (Lusíada), fez um mestrado em Direito Fiscal na Católica   Casa Apartamento em Leça da Palmeira  Carro Mini One  Portátil Dell Telemóvel iPhone 8  Hóbis Ginásio, ir jantar fora com o namorado e os amigos ao fim de semana, ouvir hip hop no Spotify (tem o premiam pois não tem pachorra para os anúncios) Férias Todos os anos gosta de fazer uma semana de paia no Algarve. Este ano planeia também percorrer a costa sorrentina, a partir de Nápoles  Regra de ouro  “Não basta querer. É preciso ter muita força de vontade”

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