Alexandra Moura
“Fui sempre melhor entendida lá fora”.
Alexandra Moura
T19 Abril 2017
Emergente

Jorge Fiel

Alexandra Moura
De férias em Londres tropeçou num coffee table book de Rei Kawakubo. Começou a folhear o álbum e deu-se o clique.

Desde os 15 anos que Alexandra marcava pela diferença. Vestia toda de preto e estava dividida entre a Biologia Marítima e a Astronomia. No final, foi a Moda que venceu.

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os 15 anos e meio Alexandra Moura vivia na Figueira da Foz e era vanguardista. Vestia de preto dos pés à cabeça, calçava botas Doc Martens e a sua t-shirt preferida era dos Sonic Youth – uma das suas bandas de culto, tal como os Jesus and Mary Chain, Joy Division ou The Smiths.

Era vanguardista e tinha sérias dúvidas sobre o que deveria estudar. Filha de um bancário e de uma educadora de infância, Alexandra, 43 anos, nasceu em Lisboa, passou a infância em S.João do Estoril, e mudou-se para a Figueira com a mãe no início da adolescência. Estava a concluir o Secundário na área A (Ciências) mas hesitava entre a Biologia Marítima – e especializar-se em crustáceos (tinha também um fraquinho por golfinhos e baleias) – e a Astronomia, pois era uma apaixonada pelos mistérios do Universo e não falhava uma emissão do Cosmos, de Carl Sagan.

De férias em Londres, flanava numa livraria quando tropeçou num coffee table book de Rei Kawakubo, a designer japonesa que inventou a marca Comme des Garçons. Começou a folhear o álbum e deu-se o clique. Percebeu que comunicava com o mundo através da sua forma diferente de vestir – e que a sua vida ia muito provavelmente passar por ali. Era na moda que ia encontrar a resposta à necessidade que a sua cabeça sentia de criar novos mundos.

“Bateu-me!”, diz Alexandra, resumindo numa palavra o efeito do livro de Rei que lhe mudou a vida e moldou o futuro. De repente, tudo ficou claro, e o amor pelas baleias e a Via Láctea permaneceram no seu íntimo mas profissionalmente foram sacrificados no altar da moda.

Candidatou-se ao IADE. Apesar de querer muito entrar, na entrevista de admissão arriscou contrariar as opiniões do professor Melo e Castro (pai de Geninha). A demonstração de personalidade compensou. No final da conversa, o poeta sossegou-a: ”Não precisa de voltar cá para a semana, para saber os resultados. Tem o seu lugar garantido”.

Nunca se arrependeu da opção. Gostou do curso, que permanentemente a desafiava a pensar, procurar e experimentar (“Para perceber, preciso de meter a mão na massa”). O primeiro dinheiro, ainda estudante no IADE, ganhou-o nas férias grandes, na Figueira da Foz. Durante o dia aprendia a lidar com malhas, num estágio na Scottwool. À noite servia às mesas numa esplanada em Buarcos. Todo o dinheiro que conseguia amealhar investia nas suas colecções. No final do curso, estagiou com Ana Salazar antes de começar a trabalhar no gabinete criativo de José António Tenente, onde se demorou quatro anos, sem nunca deixar de fazer as suas coisas, que arejava no Sangue Novo, da Moda Lisboa, ou nos Novos Talentos Otimus, com um sucesso encorajante. “O que eu realmente queria era fazer o meu percurso sozinha”, recorda.

Em cima da mudança do milénio, achou chegar a hora de levantar voo. Despediu-se de Tenente e abriu um atelier na Latino Coelho, em Lisboa. “Foi a decisão mais arriscada da minha vida”, confessa. A dureza das jornadas de trabalho, que ultrapassavam sempre os dois dígitos, era adoçada pelos aplausos. A primeira colecção, apresentada no Espaço Lab da Moda Lisboa, foi muito bem recebida pela crítica internacional, dando o tom para o que tem sido a sua carreira a solo.

A partir daí, tem sido sempre a subir. Desenhou as fardas para as lojas Atlantis Crystal, iniciou em Barcelona, um percurso internacional que já a levou a desfilar em Londres, Paris, Madrid, Viena e Copenhague, expôs no MUDE, tratou do guarda roupa de digressões de Sónia Tavares (Gift), Teresa Salgueiro e Gisela João, colaborou com Joana Vasconcelos, criou merchandising para a StartUp Lisboa e desenhou figurinos para a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo – e ainda arranja tempo para dar aulas na ESART, em Castelo Branco. Entre muitas outras coisas.

Agora que tem a sua roupa à venda em algumas lojas icónicas, em Tóquio, Kuwait, Xangai ou Barcelona, o foco de Alexandra está na consolidação da internacionalização da sua marca. “Fui sempre melhor entendida lá fora”, explica Alexandra – o que até se compreende, pois a epifania que a empurrou para a moda deu-se em Londres, numa livraria…

Cartão Do cidadão

Família Casada com Diogo, um psicólogo clínico com uma pós-graduação em Logística, que trabalha com ela. Têm um filho, Rodrigo, com oito anos Formação Curso de Design de Moda do IADE (96)  Casa Andar em Campo de Ourique Carro Não tem carta  Portátil Asus e Mac Telemóvel iPhone 6  Hóbis “Aqui há uns meses fiz um retiro de quatro dias”  Férias ”Não tenho conseguido ter”  Regra de ouro  “Dar à vida e aos outros aquilo que eu vou gostar de receber. Eu acredito na lei do retorno”

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