No meio dos trapos
“Ainda trabalham aqui duas ou três meninas desse tempo, que me penteavam o cabelo antes de eu ir para a escola”
Adília Silva
T22-23 Julho/Agosto 2017
Emergente

Jorge Fiel

Adília Silva
"Nunca ambicionei esta responsabilidade só para mim. Mas a vida é que decide."

A vida trocou-lhe as voltas. Adília Silva sonhou ser enfermeira, trabalhou numa imobiliária mas o negócio da família falou mais alto e, acedendo a um convite dos pais, entrou para a Consifex. Começou como administrativa e depois foi conhecendo a casa, por dentro e por fora, chegando a CEO. Mas esta responsabilidade, não a queria só para si...

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ra suposto serem quatro. A família toda!  A mãe, Conceição, o pai, Domingos, a irmã, Carla (engenheira têxtil), e Adília. Mas a vida prega-nos partidas. Num curto lapso de tempo, a grande ceifeira levou-lhe prematuramente a mana mais nova (2011), e o pai (2015). Abatida pelos desgostos, a mãe reformou-se.

“De repente fiquei sozinha ao lema de outra família, a Consifex. Nunca ambicionei esta responsabilidade só para mim. Mas a vida é que decide. Nós temos que ir a reboque”, diz, pragmática, Adília, 42 anos, que aprendeu a não fazer grandes planos para a vida, para não atrapalhar os planos que a vida tem para ela.

Esta história começa há 35 anos, quando a costureira Conceição Simões resolveu começar a trabalhar por conta própria, trabalhando a feitio, em casa, para assegurar um futuro melhor para as filhas, uma bebé de colo e outra que debutava na escola primária.

“Ainda trabalham aqui duas ou três meninas desse tempo, que me penteavam o cabelo antes de eu ir para a escola”, recorda, com um sorriso nos olhos, Adília, que cresceu no meio dos trapos. “Nas férias ajudava na produção. Se ainda sei costurar? Claro que sim. E ainda me consigo desenrascar. E olhe que dá muito jeito, quando estamos a discutir”, responde.

O negócio prosperava, ao ponto de em 1989, o pai, Domingos Silva, se despedir da fábrica onde trabalhava como responsável pelas malhas para se juntar à equipa a tempo inteiro. Nascia a Consifex, nome que aglutina aa primeiras silabas de Conceição e Silva com o fex de confecção têxtil.

“Os meus pais fizeram muito bem arriscar. As fábricas onde eles trabalham já fecharam. Eles tinham know how e o trabalho não os assustava. Felizmente as coisas correram bem e chegamos onde chegamos”, afirma a CEO da Consifex, empresa de malhas e confecções que tem um volume de negócios de dez milhões de euros e exporta 95% da sua produção, trabalhando em regime de private label para marcas como a Esprit, Juvia, Marc O‘Polo, Summum, Globus, Tramontana, Pepe Jeans, Bimba & Lola e Ferrari, entre outras.

O grande salto em frente foi em 1997, quando Conceição e Domingos decidiram investir na compra de dois pavilhões no Parque Industrial de S. Veríssimo, em Barcelos –  instalações no entretanto ampliadas com mais dois pavilhões, a que se deve somar um quinto, fora do parque, que é o armazém de stocks – onde passaram a ter desenho, corte, armazenagem.. e redireccionam  a atividade para a exportação. Nesse mesmo ano,

Foi nesta altura, que os pais convidaram Adília a juntar-se-lhes, um primeiro passo antes de, dois anos depois, fazeram as duas filhas sócias de Consifex.

Na adolescência, Adília sonhara ser enfermeira. Mas quando acabou o 12º ano, não estava tão certa disso e trabalhou dois a três anos numa imobiliária, em Barcelos, numa altura em que o vento soprava a favor deste negócio. “Havia gente em lista de espera para comprar casa”.

Não podia dizer Não ao convite dos pais. Começou como administrativa e depois foi conhecendo a casa, por dentro e por fora, como controladora de qualidade, assistente comercial, comercial, administradora e, finalmente, CEO. “Sempre imaginei que mais tarde ou mais cedo virá a trabalhar para aqui. Mas não queria esta responsabilidade só para mim…”, desabafa.

O negócio tem ficado cada vez mais difícil. As encomendas são mais pequenas, é preciso fazer mais modelos para vender as mesmas quantidades, o mesmo volume de 1, 5 milhões de peças de 600 diferentes modelos que a Consifex produz.

“É um desgaste muito grande ter sempre a organização preparada para ser maleável e conseguir responder às necessidades dos clientes. Ajuda muito estarmos habituados, desde 98, ao ritmo de fazer 12 coleções por ano. A Consifex é uma organização imbuída do espírito de melhoria contínua, de hora a hora, em qualquer situação/circunstância, nos produtos, processos e equipamentos, o que nos permite dar resposta positiva às exigências dos clientes. Na têxtil não há monotonia. Todos os dias surge um problema novo, para o qual é preciso achar uma solução inovadora. Vivemos num regime de aprendizagem e melhoria permanentes. Nunca se pode dizer que se sabe tudo”, conclui Adília, a mulher que está ao leme da Consifex.

Cartão Do cidadão

Família Casada com um empresário têxtil (segmento de bordados), de quem tem um filho, o João Infante, de três anos Formação 12º ano, na área de Ciências, e várias formações específicas no setor têxtil que foi fazendo à medida das necessidades Casa Vivenda em Barcelos Carro BMW X4  Portátil Mac  Telemóvel iPhone Hóbis “Estar com o meu filho. O meu tempo livre vai todo para ele”  Férias Antes de ser mãe eram repartidas entre praia e visitas culturais a cidades europeias Regras de ouro  “Acreditar na lei do retorno. Apesar de saber que nem sempre sou assim retribuída, continuo a fazer aos outros o que espero me façam a mim. Nunca peço nada sem dar”

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