T28 Janeiro 2018
Dois cafés & a conta

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Marcas
A NGS malhas tem como clientes a Max Mara, Burberry, Coach ou a Zadig & Voltaire
Despedimento
Nuno trabalhou durante 11 anos na Tebe, de onde saiu depois de uma discussão. Depois criou a NGS
Nuno Cunha Silva

O CEO da NGS Malhas despediu-se da empresa onde trabalhava e deu um salto no escuro, criando a sua própria empresa. Apresentou um plano numa página A4 a Joaquim Cardoso, empresário da Maconde, e conseguiu que o seu plano saísse do papel.

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ão deixa de ser curioso que apesar de Nuno ser tão calmo como um domingo à tarde, o momento decisivo da sua carreira profissional tenha acontecido quando ele quase se enervou, durante uma conversa com François Gros – o único patrão que conheceu em toda a vida.

À data desta conversa mais acalorada, ocorrida em Barcelos algures no ano da Expo de Lisboa, Nuno trabalhava há 11 anos na Tebe, onde debutara como estagiário, a ganhar o salário mínimo nacional, e fizera de tudo um pouco até chegar ao topo.

Era uma espécie de czar, responsável pelas áreas técnica e industrial, bem como pelo planeamento. Só não controlava as áreas comercial e financeira. Por isso não levou a bem quando François lhe comunicou que os consultores aconselhavam uma desconcentração de poderes e ele teria de escolher entre ser diretor técnico ou de produção – não poderia continuar a acumular esses dois pelouros.

“Expliquei-lhe que gostava de subir, não de descer, e despedi-me logo ali”, recorda Nuno, que não tinha nada na manga – não fazia a minha ideia do que iria fazer a seguir.
Aproveitou os três meses de lei que tinha de dar ao patrão, para ir construindo a alternativa, uma pequena empresa altamente especializada, que seria baptizada NGS e se dedicaria à criação e venda de malhas diferentes, comprando fora o fio bem como a tricotagem.

Desprovido de capital para fazer o projeto descolar, Nuno entusiasmou Joaquim Cardoso, apresentando-lhe o plano de negócios numa folha A4 – e o empresário da Maconde logo tratou de assegurar junto da banca um plafond de 50 mil contos para a NGS poder sair do papel.

Depois de, em 1998, ter dado o salto no escuro ao arriscar despedir-se da Tebe e tornar-se empresário, Nuno ousou dar, em 2013, o grande salto em frente, ao adquirir (em parceria com a Gabritex) a falida tinturaria Eical, no entretanto rebatizada Iris, de que era o maior cliente.

“Foi o movimento certo e estratégico. Era fundamental controlarmos o processo de tinturaria e acabamentos, protegendo o nosso know how”, explica Nuno, que escolheu almoçarmos na Taberninha do Chico, que fica a umas centenas de metros da fábrica da Iris (ex-Eical), para onde a NGS se mudou há três meses.

Com uma carteira de clientes onde constam a Max Mara, Burberry, Coach ou a Zadig & Voltaire, a NGS entra no seu 20o ano de vida com um volume de negócios de 10 milhões de euros (30% dos quais correspondem a exportação direta), 24 trabalhadores, uma posição de 45% na Iris (a Gabritex tem outros 45% , sendo que os restantes 10% são de Eduardo Martins, o CEO da tinturaria) e uma estratégia clara.

“O nosso cartão de visita são as 1 900 diferentes malhas que temos em exposição. Somos capazes de dar uma resposta rápida aos pedidos dos nossos clientes. Em casos pontuais, a matéria prima pode entrar às oito da noite e está disponível para entrega às oito da manhã do dia seguinte. Vamos aumentar a percentagem de exportação direta, que nos garante maiores margens, e apostar no desporto, apresentando na próxima ISPO a nossa primeira colecção técnica”, resume Nuno, um empresário tranquilo, satisfeito pela auspiciosa estreia na feira de Munique – a única amostra que submeteu a concurso foi logo distinguida.

Perfil

Nasceu em Aveiro, cresceu em Braga, fez o curso entre o Porto e a Covilhã, trabalha em Barcelos. Os pais - um juiz e uma professora de inglês - são responsáveis pela primeira parte deste percurso nómada de Nuno, que enquanto jovem universitário andou às apalpadelas até achar finalmente o caminho que faria da têxtil a coluna vertebral da sua carreira profissional. Não foi fácil. Farto de Engenharia Química, após quatro anos no ISEP; debalde tentou entrar na Marinha e em Engenharia Alimentar. Acertou à terceira, quando se mudou para a Covilhã onde completou Engenharia Têxtil (UBI, 1987) e ganhou os seus primeiros dinheiros, dando cursos de tecelagem no âmbito do Fundo Social Europeu. Tem três filhos: Filipa, 26 anos, que tem um restaurante em Braga; Nuno, 24 anos, licenciado em Negócios Internacionais, trabalha na NGS; e Alexandre, 15 anos.

RESTAURANTE
Taberninha O Chico

Perelhal
4750-622 Barcelos

 

Entradas: Pataniscas de bacalhau, filetes de peixe espada, feijoada   Prato: Vitela assada Sobremesa Pão de ló  Bebidas: Cedro do Noval tinto, água e dois cafés

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