T19 Abril 2017
Dois cafés & a conta

Jorge Fiel

As estrelas
As mantas e a roupa de bebé, que comercializa com a marca própria Wedoble, são os produtos estrela da AFF
Wedoble
A marca de crianças da A. Ferreira&Filhos quer crescer 50% ao ano até 2019
Noel Ferreira

Noel tinha 11 anos quando, nas férias, feriados e fins-de-semana, começou a ajudar o pai nas entretelas. Aos 52, é administrador da A. Ferreira & Filhos.

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pesar da ameaça das baratas mantas polares, as mantas de lambswool ou 100% algodão ainda são o pão com manteiga da A.Ferreira & Filhos (AFF), pesando mais de 60% nos quatro milhões de euros/ano que a empresa de Vizela factura. Noel Ferreira explica porquê:
“Ambas aquecem. A diferença entre uma manta das nossas e uma polar é a mesma que beber este vinho num copo de vidro ou de plástico. O vinho é o mesmo, mas a sensação sensorial não é”.

Este vinho era o Aluzé (a luz é), da Quinta do Pessegueiro, em S. João da Pesqueira, de Roger Zannier, o líder do maior grupo mundial de moda infantil, dono de marcas como a Tartine au Chocolate – e um dos clientes da AFF.

O vinho (magnífico!) esteve à altura da parada de entradas e do folhado de bacalhau que Paula Magalhães (a dona da Casa do Baixinho e mulher de Fernando Valente, treinador de futebol emigrado na China) nos apresentou na Casa do Baixinho, que fica à distância de um tiro da casa de Noel.

Mas foi mais pela qualidade da comida do que pela proximidade e amizade com os donos, que Noel elegeu este restaurante para um jantar tardio – era quinta e todas as 3ª e 5ª, entre as 20h e 21h, ele joga ténis em Lousada (o domingo e a segunda são os dias reservados ao ginásio). “Nesta idade temos de ter muito cuidado para não nos deixarmos engordar…”, diz.
As mantas e a roupa de bebé, que comercializa com a marca própria Wedoble, são os produtos estrela da AFF, escolhidos a dedo na sequência de uma reflexão profunda feita no início do século, com a ajuda da Kurt Salman, quando os sinais de alarme soaram com a fuga massiva dos clientes.

“O fio e as máquinas custam mais ou menos o mesmo na China e em Vizela. Uma camisola leva 500 gramas de fio e incorpora muita mão-de-obra. Uma manta leva um quilo de fio e muito menos mão-de-obra”, conta.

As mantas foram uma das duas peças chave no novo fôlego estratégico que permitiu à AFF manter a cabeça fora de água durante os anos de chumbo – que começaram com a invasão asiática e continuaram com o subprime e a crise das dívidas soberanas. A outra foi o lançamento, em 2005, da primeira coleção da Wedoble, a marca própria de roupa para bebé.

Nada foi deixada ao acaso. A começar pelo segmento escolhido (0-2 anos), com foco especial nos doze primeiros meses de vida (o período em que o bebé está deitado), e a acabar na filosofia da marca.

“A Wedoble é uma marca tranquila, nada exuberante, sem bordados nem estampados. Não temos gangas. Apostamos essencialmente na qualidade, suavidade e funcionalidade. A nossa preocupação é o conforto do bebé. O nosso alvo é a mãe”, conta Noel, acrescentando que um dos indicadores do sucesso do conceito é o facto da Itália ser, a par de Portugal, o melhor mercado da marca. “É como estar a exportar bananas para a Madeira”, graceja.

O crescimento da Wedoble (que já vale 20% do volume de negócios da AFF) tem sido espectacular. “Vendemos 57 mil peças para o Inverno 17/18, um crescimento de 62%. Já no Verão, as vendas tinham subido 50%. O nosso objectivo é crescer a 50% ao ano até 2019, ano em que esperamos vender 200 mil peças”, conclui Noel, um engenheiro que não tem medo do trabalho e tem como regra de ouro pensar primeiro e só agir depois.

Perfil

Nasceu na Bélgica, terceiro dos quatro filhos de António Ferreira, um serralheiro mecânico que andou emigrado até que, em 1973, problemas de saúde o obrigaram a regressar à Vizela natal, onde foi encarregado de manutenção na Garça Real antes de se estabelecer. Noel tinha 11 anos quando, nas férias, feriados e fins-de-semana, começou a ajudar o pai nas entretelas. Retornou à Bélgica para fazer em Tournai um curso de Engenharia Têxtil, com especialização em malhas (“Na U. Minho as malhas eram uma cadeira semestral. Eu tive cinco anuais, uma por cada família de malhas”), a que se seguiu um estágio na alemã Universal, à época a maior fabricante do Mundo de máquinas de malhas. Completou a formação com uma licenciatura em Engenharia Industrial, na Lusíada, Casado, vive em Paredes e tem três filhos - Sofia, 24 anos, que está a acabar Direito, Miguel, 19 anos, e David, 18, ambos apaixonados por informática.

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