T1 setembro 2015
Dois cafés & a conta

Jorge Fiel

Modelo Zara
O que nos ajudou a salvar foi o modelo inventado pela Zara, pois a velocidade obriga à proximidade
Investir
Só consegue sobreviver quem estiver sempre a investir. Parar equivale a uma sentença de morte
Mário Jorge Machado

O CEO da Estamparia Adalberto tem 54 anos e é engenheiro de polímeros pela Universidade do Minho. Xadrezista federado na sua juventude, agora joga ténis, adora caminhadas e faz Pilates

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o xadrez, diz-se que um jogador foi apanhado num garfo quando o adversário lhe ameaça duas peças em simultâneo. Como só pode mover uma, tem de sacrificar a outra. Apanhado nesta situação, o bom jogador protege a mais forte das duas peças em perigo, mas tem de recuperar a iniciativa para anular a desvantagem.

A vida obrigou Mário Jorge Machado, que na juventude foi xadrezista federado, a tornar-se um especialista em livrar-se de garfos. Tinha 23 anos, casado e licenciado de fresco, quando teve de se desembaraçar do mais tramado de todos os garfos em que foi apanhado. Uma doença prolongada levou o sogro, deixando a sogra viúva e sozinha a braços com uma empresa que balouçava à beira do abismo, com dividas fiscais, salários em atraso e um passivo asfixiante.

No início dos anos 80, a Adalberto reequipara-se financiando-se em francos suíços e marcos. O drama foi quando as desvalorizações do escudo atiraram a divida para valores estratosféricos. “Não fazia a mínima ideia no que me estava a meter. A empresa estava bem equipada, tinha know how, bom produto e havia procura. Mas o passivo era assustador”, confessa Mário Jorge, que escolheu almoçarmos no Cristininha, mas não se revelou um bom garfo. Apenas petiscou com frugalidade as enormes quantidades de comida boa que Ambrósio, o dono, ia pondo na mesa, e não se deixou tentar pelos jesuítas e limonetes da Confeitaria Moura apresentados à sobremesa.

Perdeu a conta às noites (muitas) mal dormidas, mas conseguiu evitar o naufrágio. Para começar, desconfiou que com tantas variáveis e uma inflação de 15% ao ano era impossível que os preços estivessem a ser bem calculados. Na faculdade, tinha aprendido programação. Comprou um computador, que bem perguntado lhe demonstrou que havia um diferencial de 30%. Andavam a financiar os clientes. Mário Jorge foi bater-lhes à porta, anunciando que os preços tinham de subir 30%.

Três anos bastaram para impedir o xeque mate. Mas havia de recuperar a iniciativa para ganhar o jogo. Como a dependência de um monoproduto era perigosa, diversificou para outros segmentos e mercados, entrou no licensing (Disney e Noddy) e lançou uma marca própria (Natura Design).

No entretanto, foi apanhado noutros laços, uns mais ameaçadores (como a entrada dos países asiáticos na OMC ou a crise do subprime) outros menos (o alargamento da Leste da UE), mas ele já tinha um pós doc na matéria. Sabe que tem de manter baixos os níveis de endividamento e estar sempre a ver quatro ou cinco jogadas à frente –  “Se eu fizer isto, o que é que acontece?”.

“O que nos ajudou a salvar foi o modelo inventado pelo sr. Ortega, pois a velocidade obriga à proximidade. Quando o prazo entre a criação de uma peça e ela estar na loja é de três a quatro semanas, dá muito jeito estar a 200 km da Corunha”, afirma o CEO da Estamparia Adalberto, que emprega 380 trabalhadores e fatura 30 milhões de euros. Mário Jorge olha o futuro com otimismo, mas avisa: “A têxtil é a mais absorvente e complexa de todas as indústrias. Tem mais variáveis. Temos de estar sempre a inovar. Não podemos parar nunca. Só consegue sobreviver quem estiver sempre a investir. Parar equivale a uma sentença de morte”.

Perfil

Engenheiro de Polímeros pela Universidade do Minho (1985), Mário Jorge Machado, 53 anos, nasceu e cresceu em Braga. Os pais tinham um negócio de mobiliário, com fábrica e rede de lojas (Móveis Machado). Casado com Ana Paula (filha de Noémia e Adalberto Pinto da Silva, fundadores da Estamparia Adalberto), têm três filhos. Jorge Adalberto, 30 anos, já é empresário têxtil e com a AD Style fatura 4 milhões de euros a fazer private label. Ana Rita, 26, está a desenvolver as vendas online de têxteis lar. Maria Isabel, 14 anos, anda no Secundário no CLIP e vai para a área de Economia. Mário Jorge joga ténis, adora caminhadas e faz Pilates duas vezes por semana para manter a flexibilidade. É adepto do FC Porto, mas também simpatiza com o Braga.

RESTAURANTE
Cristininha

Rua da Cristininha 75 4780-183
Santo Tirso

Presunto, salpicão, água, Duas Quintas branco, polvo grelhado, cataplana de bacalhau, dois cafés

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