T29 Fevereiro 2018
Dois cafés & a conta

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Sobre a Throttleman
"Desbravamos terreno na construção de uma marca portuguesa e abertura de uma cadeia de lojas internacional"
Portugal em primeiro lugar
"Só vendemos produtos que desenhamos. E colocamos mais de 85% em Portugal"
José Cardoso

José Cardoso está habituado a levar a vida tipo montanha russa, passando várias vezes pelo ponto de partida. A carreira do homem que esteve durante meia dúzia de anos à frente da Throttleman e que agora comanda o Segredo do Mar está recheada de altos e baixos, mas olhando pelo retrovisor tudo parece ter valido a pena.

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a sucessão de chegadas e partidas que é a vida, José Cardoso não se perdeu pois nunca perdeu de vista o destino final. “Estou habituado a aventuras. A ter de começar do zero”, declara, olhando pelo retrovisor uma carreira com altos e baixos, tipo montanha russa, mas povoada por pessoas e acontecimentos extraordinários.
A princípio foi sempre a subir. No dealbar dos anos 90, teve um primeiro emprego de sonho a viajar pelas capitais da moda, Paris, Milão, Florença…, apanhando no ar as tendências da moda – para depois as apresentar aos empresários têxteis.
A seguir, esteve durante meia dúzia de anos embarcado na trepidante aventura Boxer Shorts/Throttleman que pôs os portugueses as trocar as cuecas slip por boxers.
“Foi uma experiência fantástica, em que desbravamos terreno na construção de uma marca portuguesa e abertura de uma cadeia de lojas internacional. Fomos os primeiros a fazer franchising”, recorda José Cardoso, que se ocupava não só do desenho das peças mas também das compras.
Voltou a ter de começar tudo do zero (“no início era uma sala com um telefone no meio”) na terceira escala da sua carreira, o projeto Riopele Fashion Solutions, que consistia na prestação de serviço de confecção aos clientes da histórica empresa de Pousada de Saramagos.
Foi um galego e antigo diretor comercial da Camper – de seu nome Javier Guerra e que conhecera e fizera amizade enquanto CEO na Throttleman- que em 2004 o desencaminhou para a nova aventura de se tornar empresário.
“O Javier tinha comprado a licença da marca El Niño a uns surfistas de Tarifa e desafiou-me a ser sócio dele. Fazíamos a colecção e eu encarregava-me de colocar a produção em fábricas portuguesas”, conta a propósito do início de um negócio que rapidamente ganhou velocidade e dimensão, atingindo as 20 lojas próprias, 190 pontos de venda no El Corte Inglés e 700 clientes multimarca.
Até que em 2009, Javier e José acharam que a melhor maneira de resistir à crise mundial era aceitar uma proposta de fusão com o grupo Kelme – ficando em minoria. Foi-se a ver e estavam errados.
“Foram anos traumáticos”, resume José Cardoso, explicando por que é que, em 2013, ele e o seu sócio espanhol decidiram recomeçar tudo de novo, com a OSDM (O Segredo do Mar).
“O nosso capital era a boa impressão que tínhamos deixado na memória dos fornecedores e clientes”, explica. Pois esse capital chegou para voltarem a ter a cabeça bem fora de água.
No ano de arranque, faturaram 1,2 milhões de euros. No entretanto, resgataram a marca El Niño, acrescentaram-lhe a Ewa & Me (para raparigas teenagers) e a Holas (fatos de banho), e o volume de negócios cresceu para os 20 milhões de euros com que a OSDM (40 pessoas, entre criativos, comerciais, financeiros e controladores) fechou o último exercício.
“Só vendemos produtos que desenhamos. E colocamos mais de 85% em Portugal. Dá prazer trabalhar com as fábricas portuguesas. Surpreendem não só pela qualidade mas também pela velocidade com que fazem as coisas”, conclui José Cardoso, um empresário que sabe que os rios correm para o mar – de que ele conhece o segredo :-).

Perfil

A mãe trabalhava numa fábrica de calçado em Vila do Conde e o pai tinha lojas de artigos de decoração. Quando andava na primária (escola de S. Vicente de Paulo), ambicionou ser médico, “uma profissão segura”. Como tinha jeito para o desenho, durante o secundário (feito no Rodrigues de Freitas) pensou ir para Arquitetura. Mas, quando chegou a hora de escolher, uns amigos falaram-lhe de um curso novo de Design de Moda no Citex - e ele gostou do que ouviu. “Foi muito intenso, cargas horárias muito fortes, mas gente muito interessante”, recorda, avaliando o curso dirigido por Helena Matos. Começou no Departamento de Moda da Anivec uma carreira tipo montanha russa, com escalas venturosas (Throttleman e Riopele) e um negócio traumático (Kelme) que o levou a recomeçar tudo do zero, em 2013. É casado com uma juíza (“a minha mulher é brilhante, eu sou apenas um tipo esforçado”) de que tem dois filhos, a Sofia, 16 anos, e Diogo, 14.

RESTAURANTE
Gaveto

Entradas: Camarão de Espinho Prato: Robalo grelhado Bebidas: Vallado branco, água e cafés

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