T15 Dezembro 2016
Dois cafés & a conta

Jorge Fiel

O destino
Tinha 28 anos quando regressou a casa e cumpriu o seu destino de assumir a gestão da Inarbel.
O futebolista
As coisas mudam, os tempos estão mais difíceis, mas ter sido futebolista preparou-o para contornar as esquinas da vida.
José Armindo Ferraz

José Armindo Ferraz tem 45 anos e é o CEO da Inarbel. Ambicioso, foi jogador de futebol profissional no passado mas é na Inarbel que faz o seu futuro.

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s coisas mudam. “Isto agora anda tudo muito rápido – a mil. A Páscoa foi ontem e já estamos a chegar ao Natal. Há 15 anos, em Fevereiro/Março tinha a produção vendida para o ano todo. Trabalhava metade e ganhava o dobro”, analisa Zé Armindo.

As coisas mudam. Nos anos 90, quando Zé Armindo jogava a avançado, os adversários marcavam-no a meio metro de distância. Hoje, quando Rafael, 13 anos – o seu filho mais velho (Gabriel, nove anos, o mais novo, também lhe herdou o jeito para a bola) -, joga a ponta de lança, nos iniciados do Penafiel, os defesas centrais marcam-no a cinco centímetros de distância, encostados a ele.

As coisas mudam, os tempos estão mais difíceis, mas ter sido futebolista preparou-o para contornar as esquinas da vida. Antes de receber a bola já tinha de saber o que ia fazer a seguir, habituou-se a sofrer as entradas maldosas dos adversários e a acatar as decisões, mesmo que injustas, dos árbitros.

“Para mim, o futebol foi a faculdade da vida. Deu-me mundo. Quando era miúdo, ir ao Porto era uma aventura maior do que ir agora a Nova Iorque. No futebol aprendi a conviver com pessoas diferentes, a ser humilde mas também competitivo. Nunca gostei de perder – nem a feijões”, conta o CEO da Inarbel.

Zé Armindo escolheu jantarmos no Engaço, onde ele ceia com a família todas as sextas (após o treino do Rafael), restaurante de que é dono e chef o seu amigo Hélder Rocha, um aficionado do todo-o-terreno.

“É sempre assim. Ele é que escolhe”, explica Zé Armindo enquanto, depois de aviadas as entradas (que já por si eram uma refeição), começaram a desembarcar na mesa o bacalhau, o javali e o lombinho de boi, regados por Pecado Capital, o vinho verde que ele produz e se farta de ganhar medalhas, cá dentro e lá fora.

Foi em 1998 que trocou a bola pelos trapos. Antes de começar a rematar ao golo, demorou um ano a estudar a empresa e o negócio, a inventariar pontos fracos e fortes. No final, reuniu com os pais e quantificou as suas condições para assumir o comando: reduzir os custos em 30% e crescer 50%. Disseram-lhe que sim, mas no íntimo devem ter pensado que ele estava sonhar acordado. Não estava.

Quando assumiu a empresa, a Inarbel tinha oito máquinas, 70 pessoas, só fazia private label, e apenas exportava fardas para colégios ingleses. Hoje, tem 54 máquinas, 230 pessoas, um volume de negócios de 6,8 milhões de euros, dos quais 35% feitos com a marca própria Dr. Kid, exporta 90% da produção para 25 países – e está a construir uma rede de retalho da sua segunda marca (A&J).

“Criar uma marca própria é difícil e caro. Mas se não tivesse investido na Dr. Kid não tinha chegado onde cheguei”, afirma o CEO da Inarbel, reconhecendo que será mais fácil trabalhar uma marca de criança do que de adulto.

“O Made in Portugal já é uma marca. Na etiqueta é um fator positivo, sinónimo de bom serviço. Sabem que somos sérios, temos bom preço e um nível de design idêntico, ou até melhor, ao dos mais prestigiados criadores internacionais”, garante Zé Armindo, um empresário com preocupações sociais: “Deito-me a pensar nos meus colaboradores. Acordo a pensar neles. Eles fazem tudo por mim. Eu faço tudo por eles. Nunca despedi um colaborador direto”.

Perfil

O ar (Armindo) de Inarbel (a bel era a irmã Anabela) andou e anda pelo mundo, mas cresceu, vive e trabalha em Vila Boa de Quires, Marco de Canaveses, onde os pais singraram na vida. A mãe, Maria das Dores, era chapeleira. A família do pai, Armindo Ferraz, tinha um armazém de adubos. Juntos, Maria das Dores e Armindo estabeleceram-se com uma mercearia, mas às 2ª e 3ª feiras levantavam-se às duas da manhã e iam para a feira em Tondela vender meias, fraldas e cobertores. Ambiciosos, deram o salto de feirantes para industriais, criando a Inarbel, que começou por fabricar calças de bombazina antes de se focar na roupa de criança. O filho, Zé Armindo, foi futebolista profissional. Após escalas no Marco, Boavista, Penafiel, Leça, Campomaiorense foi parar ao Bolton onde pendurou as botas. Tinha 28 anos quando regressou a casa e cumpriu o seu destino de assumir a gestão da Inarbel

RESTAURANTE
O Engaço

Avenida de Recesinhos

S.Mamede de Recesinhos

4560 – 800 Penafiel

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