Um bom arranque
T18 Março 2017

Paulo Vaz

Director-geral da ATP
O

s primeiros dados de comércio externo do setor, referentes a janeiro, vêm confirmar o sentimento positivo que havíamos recolhido nas grandes feiras têxteis e de moda que, entretanto, tiveram lugar e que funcionam normalmente como barómetro ou indicador antecipado.

Na verdade, trata-se de um bom arranque: mais de 6% de crescimento nas exportações têxteis e vestuário, em todos os setores da fileira, surpreendeu mesmo o mais otimista e veio contrariar os receios criados pela incerteza e imprevisibilidade da situação política internacional, nomeadamente na Europa, com o Brexit, e nos Estados Unidos, com a presidência de Donald Trump.

Se esta é uma tendência que se confirmará ao longo do ano ninguém o pode saber, mas, se vier a efetivar-se, 2017 promete ser mais um ano feliz, com a perspetiva de todos os indicadores de atividade atingirem novos recordes.

Esta realidade não surge por acaso, nem fruto da sorte. Já aqui o tenho dito, por diversas vezes, que a sorte dá muito trabalho, tal como a inspiração exige grandes doses de transpiração.
Depois de uma década sofrida, no início do século, esta que vivemos afirma-se como de verdadeira recuperação assente em três pilares fundamentais: diversificação e diferenciação de produtos, por via da introdução de tecnologia e design, maior intensidade de serviço e foco no cliente, e, finalmente, uma maior internacionalização das atividades, aumentando a percentagem do que se produz em vendas ao exterior. Isto traduz-se em duas pequenas frases e que ilustram bem a mudança estrutural do setor – passamos da concorrência pelo preço para a concorrência pelo valor, e deixamos de ser tomadores de encomendas para sermos vendedores, de produtos, de serviços e de competências.

Não pensemos, contudo, que temos um caminho de rosas pela frente. Longe disso. A ITV portuguesa tem um histórico de resistência e de reinvenção, mas tem a obrigação de querer ser mais no futuro, o que significa crescer bastante mais, não tanto em termos produtivos, mas em margem e em quotas de mercado.

Estão por cumprir muitos dos objetivos que os eixos estratégicos do Plano que a ATP desenhou para o setor. Há que aumentar ainda mais a produtividade das empresas, o que depende muito da gestão interna das organizações, há que ganhar dimensão, para se poder comprar e vender melhor, e há que introduzir ainda mais valor no que se faz e no que se vende, ao que está incontornável ligado à questão da marca e da comercialização, agora no paradigma digital que vivemos e que se vai tornar holístico nos anos que virão.

Ficamos satisfeitos com as boas notícias, mas, mais do que a celebração, elas devem dar-nos razão para nos esforçarmos ainda de modo que, objetivos que se desenharam conservadores, se transformem em maior ambição, pois, agora, ao contrário do passado, o país olha, acredita e respeita o setor, pois sabe que precisa dele.

Partilhar