The Next Big Thing
T32 Maio 2018

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
H

á 15 anos a ITV enfrentava a sua mais dramática crise, feita de um conjunto de sucessivos choques competitivos, que não só foram previstos como antecipadas todas as suas consequências, tendo mesmo, em determinado momento, existido programas especiais para que as empresas se preparassem para o novo paradigma.

Na verdade, em pleno processo de globalização, a liberalização do comércio têxtil e vestuário internacional, a adesão da China à OMC, a adopção do euro e o alargamento a Leste da UE, trazendo novos e mais agressivos competidores, e a crise económica e financeira global, determinaram uma reestruturação forçada do sector, com maciça perda de empresas e empregos, uma reinvenção do negócio, agora centrado na velocidade, no serviço integral ao cliente e na diferenciação dos produtos pelo design e tecnologia, que possibilitou, aos que insistiram em sobreviver, um novo posicionamento e uma nova oportunidade para resistirem, recuperarem e expandirem mercados.

Felizmente, foi esta a situação que vivemos até agora, ao longo dos últimos oito anos, mas nada nos garante que esta tendência será eterna e que vamos evitar os erros do passado, ou seja, não perceber os sinais que nos chegam e que nos impõem mudanças imediatas e significativas na forma como estamos, nos organizamos e nos projetamos para o futuro.

Estamos em tempo de refletir e refazer estratégias, tal como o deveríamos ter feito quando o sector recebeu o famoso estudo de impacto da liberalização do comércio têxtil internacional realizado no final da década de 90 pela Kurt Salmon. Poucos lhe prestaram atenção, todos sofreram e muitos foram vítimas dessa distração ou mesmo negação da realidade.

O paradigma que se está a desenhar ainda não tem contornos definidos, mas tem tendências iniludíveis: a sustentabilidade e economia circular passam a tema mainstream para a generalidade das marcas, porque os consumidores lhe impõem essa atenção; o mesmo se diga da economia digital e da conectividade, algo que os millennials entendem como natural mas muitas empresas do sector ainda nem sequer perceberam  – não ter presença ativa na net é como nem sequer existir; e, finalmente, a volatilidade do mundo em que vivemos, sujeito a um processo acelerado de evolução, condicionado pela geopolítica, mas também pela falência de modelos de negócio e de marcas que julgávamos eternas e insubstituíveis, simplesmente porque os novos consumidores, com outros valores e aspirações, assim o vão determinar.

Este admirável novo mundo, esta next big thing vai trazer tantas ameaças como oportunidades, pelo que resta saber onde nos queremos colocar: como o cordeiro sacrificado que a História do setor pode exemplificar com tantos casos ou o lobo agressivo que antecipa as vantagens para delas fazer negócios, ganhar quota de mercado e posição dominante.

Contudo, ficar de um lado ou de outro, não será questão do acaso, mas, obviamente, o resultado de planear, projetar, investir, preparar e atuar, tal como fizeram os que sobreviveram nos últimos 15 anos. Não há outra forma, tal como nunca houve e nem nunca haverá.

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