Que desafios para o ensino superior do Design de Moda?
T60 - Janeiro 2020

Alexandra Cruchinho

Professora na Universidade Lusófona de Humanidades
e Tecnologias e Investigadora
do CICANT
T

orna-se cada vez mais comum frisar a necessidade premente de um ensino à distância ou misto, que ilustra o esforço das instituições de Ensino Superior em mudar a sua realidade pedagógica.

Se a natureza da formação ministrada se deseja presencial, dada a especificidade prática dos cursos em Design de Moda, a realidade atual confronta as instituições com desafios para a formação prática com a ausência física dos estudantes nas salas de aulas, nos laboratórios, nos ateliers, e em contacto com os equipamentos. Claro está que aos professores e dirigentes é exigido um nível de criatividade que permita que encontrem soluções compatíveis com um ensino à distância com sucesso nas aquisições práticas dos estudantes.

Também, nesta fase da pandemia que entrou, sem perguntar, nas nossas vidas, algumas Instituições já implementaram regras que permitem aos estudantes aceder aos espaços, laboratórios, oficinas, o que lhes permite desenvolver e testar as aquisições feitas.

Porém, serão apenas estes os desafios que se apresentam às instituições de Ensino Superior no Ensino do Design de Moda?

Aos Designers de Moda Profissionais, num curto e abrupto espaço de tempo, foi-lhes “exigida” uma adaptação rápida a esta nova realidade. Se os profissionais e as marcas já marcavam presença em termos de redes sociais, aliando o físico ao digital, atualmente os Designers encontram-se em ponto de viragem.

Os desfiles passaram a ter abordagens e leituras visuais muito distintas. De uma plateia preenchida de público que se desloca a uma semana de moda para ver a apresentação das propostas que cada designer tem para presentear o seu consumidor passa à ausência ou redução do público na plateia o que representa a ausência do carinho, do afeto que tanto inspira os designers e lhes trás o feadback do seu trabalho.

Todo o seu trabalho torna-se muito mais “solitário” e distante. O contacto passa pelas redes sociais, pelas videochamadas, pela divulgação quase sem rosto. Os desfiles passam a ter abordagens muito diferentes e distintas daquelas que até então tinham sido praticadas.

Dos Designers de Moda é esperada criatividade, agora mais ainda. Criatividade não apenas na forma como pensa uma coleção, como desenvolve cada produto que a integra mas, criatividade na forma como os divulga, como os comunica a um público ansioso de voltar a poder estar mais presente. Criatividade na forma como gere o nome, a marca, os princípios que enunciou na altura da sua criação e que regem o seu trabalho.

No ensino urge repensar a formação e as competências que são ministradas aos estudantes, futuros designers. Temas como sustentabilidade e empreendedorismo, há muito que já estão incorporados na formação em Design de Moda, porém, há que desenvolver competências para a criação e gestão de novos modelos de negócio, novas formas de comunicar produtos e marcas, para o desenvolvimento criativo de estratégias de marketing e comunicação, para a criação de novas realidades, não físicas mas virtuais para apresentação de coleções.

Estes são os grandes desafios que a pandemia trouxe ao Ensino Superior de Design de Moda. De alguma forma, todos os intervenientes no processo educativo sairão a ganhar, crescendo na aquisição de novas competências.

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