Por uma moda com sabor!
T21 Junho 2017

António de Souza-Cardoso

Presidente da AGAVI
S

ou neto de um coronel do exército que tendo gerado cinco filhos e uma filha, teve também a bênção de ter 22 netos. O meu Avô coronel era daltónico e eu, um dos dois rapazes da única filha que teve, sou a vítima rigorosa da estatística mendeliana: Fui o único dos 22 netos que recebeu a doença do avô de que minha Mãe foi sorrateira portadora.

Como não vejo muitas cores, observo o mais que posso, e provo, e cheiro e toco e ouço!

A conclusão a que chego é que as cores surgem, claro está, da natureza. A cor castanha do fruto que lhe dá o nome, a verde do mais absoluto da paisagem, o azul do mar e do céu que fazem a caixa onde vivemos, etc, etc. E sorrio quando vejo tantas alusões que as cores têm com os produtos da terra – a cor de azeitona, de mel, de laranja, de limão, de alface e tantas, tantas outras…

A moda e a terra estão assim ligadas quase umbilicalmente pela cor.

Mas o mundo de hoje, cheio de incertezas e pobre de identidade faz-nos outros chamamentos e aprofunda a relação quase apaixonada que a Moda tem com a Gastronomia.

Um, mais de natureza cultural, traduzido na preocupação de nos aproximarmos de um certo estilo de vida. O lifestyle para usar o anglicismo, tem âncoras seguras na Moda e na Gastronomia, dois fenómenos que tem constituído indicadores de uma cultura nova, contemporânea, urbana, moderna e progressiva.

O segredo de Lisboa e do Porto, como duas das cidades de maior atracção turística mundial está certamente aí. Como também está, a parte mais positiva e segura do nosso crescimento económico, traduzida nos resultados do crescimento das nossas exportações no têxtil e vestuário, no calçado e no agro-alimentar.

Uma segunda dimensão tem um valor mais ligado à saúde, à ética e à responsabilidade social. Uma nova consciência para a preservação do ambiente e da paisagem, aliada a uma preocupação de percorrer uma vida saudável e de ser culturalmente coerente com esse propósito. O regresso às fibras naturais, como o linho, o algodão, o cânhamo, a lã; o regresso aos nossos mais genuínos produtos regionais que simbolizam uma dieta mediterrânica com inspiração atlântica, são apenas exemplos desta tendência de quem cada vez valoriza mais, uma nova cultura, mais responsável mas, simultaneamente, mais identitária.

A Gastronomia e a Moda portuguesas, digo-o sem hesitações, são os principais responsáveis pela projecção de um Made in Portugal que outrora envergonhava perigosamente os dois sectores e contaminava a falta de estima que os portugueses tinham por aquilo que é nosso.

Hoje o reconhecimento internacional da Moda, da Gastronomia, dos Vinhos e do Território, onde se inclui o valoroso Mar Português, dão-nos uma identidade mais próxima do capital simbólico que realmente temos, traduzido numa história e numa cultura de valor económico e social inestimável.

E isso é, felizmente, percepcionado pelas novas gerações que gostam daquilo que é nosso e que recuperarão a garimpa e o trapio daqueles portugueses que fizeram as primeiras rotas da seda e das especiarias. Daqueles que foram conquistadores do Mar e da Terra. Dos primeiros que juntaram continentes e foram globalizadores do Mundo!

A Gastronomia e os Vinhos portugueses vão continuar na Moda e a Moda que hoje se produz em Portugal tem um sabor genuíno e característico que continuará a ser motivo de orgulho de todos os portugueses!

Partilhar