Podes ficar com o chapéu
T50 - Janeiro
Fevereiro 20

Rui Zink

Escritor e professor universitário
S

omos, além do canguru-bebé, o único animal que se veste. E, dado que este T celebra 50 edições, pensei num jogo que todos podemos fazer em casa, acompanhados ou sozinhos: enumerar 50 peças de roupa. Ou afins, eu por exemplo tenho óculos e, quando conduzo, um colete refletor no porta-bagagens. Também contam. Afinal, estamos a falar de 50 peças de roupa, não de meia-dúzia. Os 50 é uma idade respeitável em todos os sentidos – até nos cinco.

Embora lá, então, 50 coisas de vestir. O exercício levou-me nem cinco minutos. Aqui vai, numa só frase, ou quase: peúgas, chapéu, lingerie, casaco, casaquilha, colete, laço, gravata, lenço, camisa, camisola, sutiã, cinta, barrete, os óculos, as orelheiras, máscara bacteriana, colete refletor, as calças, cinto, saia, as cintas de liga, cachecol, lenço, gabardina, poncho para a chuva, cartola, solidéu, chapéu alto, paletó, os botões de punho, camisola sem alças, camisa de manga curta, os suspensórios, máscara de neve, camisolão, camisinha (também é uma peça de roupa, e protege uma parte do corpo com alguma importância, as luvas, as luvas só com dedo, as luvas de trabalho, as luvas sem dedos, pijama, vestido de noite, até aqui vão 43, faltam sete. Embora lá: colete antibala, polainas, botas de borracha, ténis de corrida, sapatos de marcha, cinta ortopédica, joelheiras. Agora é a sua vez: acha que consegue bater o meu recorde? Espero que sim. No que de mais importante há na vida, ser mais rápido nem sempre é o melhor.

Somos, além do canguru-bebé, que tem uma bolsa melhor que se fosse de marca (uma bolsa de mãe!), o único animal que se veste. 

Somos também, por isso, o único animal que se despe. Fazemo-lo pelas mesmas razões por que nos vestimos: conforto, sedução, alegria de viver. 

Partilhar