Para se ser sustentável não basta ser ecológico
T6 Fevereiro 2016

Maria José Carvalho

Diretora do Departamento de Produção Sustentável do CITEVE
E

stará a sustentabilidade na moda? Provavelmente sim. Fala-se muito dela, é muito usada e muitos a querem. E isso é bom? No geral parece-me que sim, mesmo quando não é bem usada, não deixa de ser divulgada e pode acabar por ficar. Não ser apenas uma moda passageira.

Começando pelo conceito, de facto fala-se muito de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável mas nem sempre é corretamente utilizado. É frequente aparecer associada às boas práticas ambientais, confundindo-se os conceitos de sustentabilidade e ecológico.

Na realidade ter práticas de desenvolvimento sustentável significa muito mais do que ser ecológico. Significa ter uma gestão equilibrada de três pilares, o económico, o social e o ambiental, conhecida pela gestão baseada nos 3P (Triple Bottom Line), sendo os P de Profits, People and Planet.

Mais do que estar na moda há quem defenda que a sustentabilidade (com os seus três pilares) representa o movimento cultural do século XXI. Michiel Schwarz e Joost Elffers chamam-lhe sustainism, descrevendo-o, no seu livro Sustainism Is The New Modernism, como um movimento cultural que é ética e ambientalmente responsável, socialmente e geograficamente inclusivo, colaborativo, em rede, sensível à natureza, e com talento de tirar o máximo proveito dos avanços tecnológicos e o melhor partido do globalismo e localismo.

Seja moda ou movimento cultural de um século a realidade é que o setor têxtil e do vestuário não pode ficar indiferente à sustentabilidade. Mais ainda quando é um dos setores que está sobre o constante escrutínio das organizações que questionam as práticas ambientais e sociais na produção dos artigos têxteis e, em especial, de vestuário. Assim, torna-se essencial que as empresas sejam éticas e responsáveis, a nível económico, social e ambiental.

Mas então as empresas têxteis e do vestuário não têm práticas de sustentabilidade implementadas? A maioria tem. O que lhes falta é criar maior equilíbrio entre as três vertentes (económica, social e ambiental), comunicar as suas práticas, criar influência na cadeia de fornecimento e sistematizar.

Para que a sustentabilidade seja efetiva, não só tem de estar implementada como deve ser fiável e transparente. Não basta parecer é preciso ser. E é essencial que as empresas deem a conhecer as suas práticas na vertente do desenvolvimento sustentável.

Existem várias ferramentas que as empresas podem utilizar para as auxiliar na aplicação do desenvolvimento sustentável, desde os sistemas de gestão (como qualidade, ambiental, segurança e saúde no trabalho e responsabilidade social), passando pelos relatórios de sustentabilidade, até a certificação STeP by Oeko-Tex® (Sustainable Textile Production).

Mas o primeiro passo essencial para ser sustentável é querer ser.

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