O têxtil humano
T11 julho/agosto 2016

Mário Vidal Genésio

Engenheiro
D

epois da 1ª Revolução Industrial (século XVIII), propagada a partir da máquina a vapor e as suas aplicações na indústria têxtil, sucedeu-lhe a 2ª (finais do século XIX), que trouxe a produção em massa, e a 3ª (nos anos 70 do século XX), com a aplicação da eletrónica na produção e nos produtos. Estamos agora a entrar na 4ª Revolução Industrial: a Indústria 4.0.  Tal como a agricultura, a passar por profundas transformações, está na sua revolução: Agricultura 4.0.

A Indústria da Moda portuguesa, nomeadamente a área do Têxtil e do Vestuário, tem um impacto fortíssimo nas exportações e no emprego. Em 2016, o crescimento das exportações da indústria da Moda continua com muito bom comportamento, com taxas anuais de 6%, contrastando com outros setores nacionais.

E isto não acontece por acaso, mas sim porque as empresas se souberam reajustar e muitas vezes reinventar, mesmo depois de passarem por crises recentes sucessivas, desde a liberalização nos tratados comerciais, até à crise mundial de 2008, ao resgate de Portugal de 2011 com tão penalizador impacto sobre o investimento e o consumo, ou o acesso ao financiamento.

Várias vias de aumento da competitividade têm sido seguidas pelas empresas, mas os casos de maior sucesso, que são os responsáveis pelas boas estatísticas, radicam na criatividade e na inovação que é aplicada nas empresas e nos seus produtos.

Portugal é cada vez mais visto como um país de design e de tecnologia aplicada à área da Moda, fatores estes que se juntaram às nossas vantagens competitivas tradicionais, de qualidade de produtos e de rigor dos contratos.

Em termos de mercado, estamos perante boas perspetivas para a Moda nacional, tendo em conta os fatores positivos atrás referidos e o facto de muitos compradores que não foram bem sucedidos nos negócios com outros países, estarem a reaparecer. É uma oportunidade única, que urge agarrar com toda a determinação, para provar aos nossos clientes que trabalhar com a Industria da Moda Portuguesa é uma aposta ganha.

Ainda antes de se falar na Indústria 4.0, já empresas nacionais apresentavam produtos que nela se enquadravam, como a camisola que monitorizava indicadores de saúde ou que dispensava medicamentos, com ligação a sistemas informáticos que acompanhavam e controlavam os processos.

Efetivamente, é ao nível da tecnologia, na utilização de novos materiais e nas novas aplicações que se estabelece o perfil mais inovador da indústria da Moda. Os têxteis estão presentes em praticamente todas as atividades humanas, substituindo, com vantagem, outros materiais, pela sua leveza, pelo seu custo ou ainda pela sua trabalhabilidade, quer na aviação, no automóvel, na saúde, no calçado, entre outros.

Não nos podemos esquecer do fator Moda, que equivale a inovação, já que tem de se renovar todos os anos e estações, não podendo a tecnologia ser dissociada da criatividade e da usabilidade dos produtos.

A Indústria da Moda tem, assim, de estar na vanguarda desta nova revolução industrial, como esteve na primeira, e as empresas do setor têm que continuar a apostar naquilo que as diferencia, iniciando uma verdadeira Moda 4.0!

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