O sucesso é chão para mudança não para acomodação
T21 Junho 2017

Paulo Vaz

Diretor-Geral da ATP
N

o passado dia 11 de Maio, a ATP realizou um “road show” em Bruxelas, destinado a promover a excelência da ITV portuguesa junto de responsáveis políticos e da imprensa creditada na capital política e administrativa da União Europeia.

Tratou-se de aproveitar o bom momento que vive o sector, em particular o incremento de notoriedade que vai ganhando em todo o mundo, como sendo uma atividade tradicional que conseguiu conservar o seu “know-how” de muitas décadas e, simultaneamente, ascender na cadeia de valor, pela incorporação de criatividade e moda, inovação tecnológica e muita intensidade de serviço.

Fizemos o que muitos querem fazer e não conseguem, resistimos em manter as competências e estrutura industrial, quando outros deixaram cair ou fugiram para o Oriente, e construímos uma reputação no têxtil e vestuário “made in Portugal”, que é objeto de interesse e estudo, em toda a parte do mundo, e até de alguma incredulidade e inveja. Sabe bem explicar como estamos a vencer!

Temos razões para festejar, mas temos igualmente a experiência a alertar-nos que “embandeirar em arco” é normalmente o caminho certo para o desastre. O mundo está em constante mudança e é cada vez mais incerto o sentido dessa mudança. O exercício de conquista da boa conjuntura que habitamos demorou anos de penoso e silencioso trabalho por parte de todos, a começar pelas empresas, mas a “descida aos infernos” pode ser quase instantânea se um mau golpe do destino nos vier a assolar, sendo que, nisso, não teremos praticamente palavra a dizer, mas sentiremos em primeira linha as consequências.

Forças geopolíticas e geoeconómicas estão em pleno movimento e irão formar o mundo que habitaremos no futuro. Desconfio que a maioria dos agentes económicos, deste e doutros sectores, não se apercebeu desta mudança silenciosa, mas inexorável, que está a fazer perder rapidamente a hegemonia do Ocidente no mundo, agora agravada com o voluntário isolacionismo norte-americano, a desorientação que impera na Europa e a incapacidade de muitos dos países emergentes se afirmarem efetivamente na cena internacional, como o Brasil.
Neste entretanto, a China planeia uma nova “rota da seda”, com a paciência e perseverança que caracteriza os orientais, até porque o tempo para eles tem outra dimensão e está do seu lado, sendo que o objetivo final é o domínio global.

Tudo isto nos deve pôr a pensar e a reavaliar o modelo negócio que temos em mãos, o seu presente e o seu futuro. Se vamos continuar a ser competitivos e como. Se vamos continuar a ter mercados e quais. Se devemos mudar as organizações e a sua gestão como e em quê.

Estar bem não deve ser sinónimo de acomodação, pois tudo continua por fazer. Temos de aproveitar o chão sólido, que hoje pisamos, para podermos saltar em frente, ganhando alcance e aterrarmos seguros. Jamais cair na tentação que não precisamos de mudar, pois, se não o fizermos, deixaremos de ser agentes dessa mudança, como agora estamos a ser, mas vítimas do mundo que muda, como o fomos afinal há duas décadas atrás. Revisitemos a História, pois nela está sempre o que devemos evitar no futuro.

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