O elevado custo da Energia
T37 Novembro 18

Paulo Nunes de Almeida

Presidente da AEP – Associação Empresarial de Portugal
M

uito recentemente, num outro artigo de opinião, sublinhei que num mundo globalizado e altamente concorrencial a capacidade competitiva das empresas é o fator decisivo.

Sublinhava este aspeto a propósito da enorme preocupação pelos elevados custos da eletricidade pagos pelas empresas em Portugal, acima da média europeia para todos os escalões de consumo industrial.

Esta situação, de per si muito preocupante, está agora a agravar-se. No momento da renegociação dos seus contratos, as empresas estão a ser confrontadas com aumentos muito significativos, na ordem dos dois dígitos, face aos contratos anuais anteriores.

Este agravamento tem um peso negativo enorme na competitividade interna e externa das empresas, sobretudo no quadro da internacionalização crescente do seu volume de negócios. Tenho transmitido que o nosso tecido empresarial não está em condições de poder comportar tais acréscimos, pelo que se esta situação vier a confirmar-se, de forma generalizada, colocará sérios entraves ao crescimento económico.

Uma fatia substancial da fatura energética paga pelas empresas pouco ou nada tem a ver com o seu consumo efetivo. Por mais eficientes que as empresas possam ser do ponto de vista do consumo da energia elétrica, será muito difícil “combater” uma parcela que é exógena à sua atividade, que inclui tarifas de acesso, custos de interesse económico geral, taxas, impostos e contribuições.

O Têxtil e Vestuário, um setor que conheço bem, é um dos principais consumidores industriais de energia elétrica. Ocupava, em 2016, a 11ª posição no ranking do consumo (a primeira era o “Consumo Doméstico” seguido pela indústria de “Fabricação de pasta, papel e cartão”) e a 7ª do consumo em alta tensão. Nas indústrias transformadoras, ocupava a 6ª posição no consumo e a 2ª no segmento em baixa tensão.

A realidade é esta! Quando estamos a falar de setores com elevado consumo de energia elétrica a perda de competitividade é ampliada.

No caso particular do Têxtil e Vestuário, estamos perante um setor com uma representatividade muito significativa na economia nacional, 20% do emprego e 11% do VAB da indústria transformadora. Acresce a importância para o equilíbrio das contas externas, dado o seu excedente comercial, que ultrapassou os mil milhões de euros em 2017 e cerca de 826 milhões de euros nos primeiros oito meses deste ano.

O ano de 2017 foi o melhor de sempre em termos do valor exportado pelo setor, acima de 5,2 mil milhões de euros, ou seja cerca de 10% das exportações globais de bens, demonstrando uma capacidade competitiva acrescida. Até agosto já ultrapassou os 3,6 mil milhões de euros.

Reafirmo, Portugal tem que continuar a apostar na produção de bens e serviços transacionáveis, competitivos à escala global, como forma de potenciar o crescimento económico.

Há motivos, mais do que suficientes, para se perceber que não podemos correr tão elevado risco de perda de competitividade. De uma forma direta, estaríamos também a colocar em causa o alcance da meta de 50% da intensidade exportadora, que tanto ambicionamos para Portugal.

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