Ganhar o futuro
T46 - Setembro 19

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP
D

epois de 10 anos de contínuo crescimento a ITV portuguesa parece estar a chegar ao fim de um ciclo. Interna e externamente, a mudança está em curso e um novo paradigma para o negócio do têxtil e da moda está a formar-se com grande rapidez, exigindo uma atenção redobrada de modo que as ameaças possam ser transformadas em oportunidades – e estas encontrem condições na generalidade (ou pelo menos na maioria) das empresas do nosso sector para serem plenamente aproveitadas.

O fenómeno da globalização, que aparentemente parecia estar a sofrer uma travagem sob a égide das novas políticas protecionistas norte-americanas, continua em enchimento, multiplicando-se a realização de acordos de livre comércio de iniciativa europeia – Canadá, Japão e Mercosur, entre outros – , espaço político e comercial onde estamos integrados, promovendo-se assim uma crescente abertura das trocas comerciais, o exponencial aumento da concorrência internacional e a multiplicação de possibilidades de desenvolver novos mercados e encontrar novas clientelas, como nunca antes na história do nosso sector.

Por outro lado, novas e poderosas tendências estão a definir o que será a indústria têxtil e de moda nos próximos anos. À inovação – tecnologia e criatividade, essencialmente expressa no design -, junta-se a digitalização, impondo novos canais de comunicação e de realização de trocas, e a sustentabilidade, numa acepção lata que toca as vertentes do económico, do ambiental e da responsabilidade social.

O consumidor contemporâneo é informado e tem uma consciência mais ativista, recusando os velhos paradigmas que fizeram o sucesso da fast fashion mas com elevados custos em muitas geografias menos desenvolvidos, cada vez menos tolerados, cada vez mais inaceitáveis.

Se combinarmos valores, tecnologia e economia circular, estaremos certamente perante um mundo diverso, radicalmente distinto ao que sempre conhecemos e altamente exigente. É esse também um desafio que está colocado à nossa ITV, que não pode confiar nas soluções do presente e menos ainda nas do passado para responder aos problemas que o futuro já nos está a colocar.

Importa, contudo, sublinhar que a ITV portuguesa continua a evidenciar uma extraordinária resistência e capacidade de adaptação face aos desafios mais extremos a que vem sendo submetida, mantendo-se como um “cluster” estruturado, integrado e dinâmico, continuando a subir na cadeia de valor e apresentando um constante crescimento na sua produtividade.

Enfrentamos uma conjuntura particularmente difícil e desafiante. Não deve haver ilusões quanto às dificuldades que o sector e o país poderão ainda enfrentar, numa lógica de transformação e incerteza da realidade que hoje vivemos, sendo que, mais do que nunca, se impõe juntar esforços, procurar consensos e convergência nas estratégias coletivas a seguir, e usar sempre do indispensável bom senso para garantir a sobrevivência, consolidar a regeneração e ganhar o futuro.

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