FIM DE CICLO
T 38 Dezembro 18

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
O

ano de 2018 foi mais um ano de crescimento do sector, embora algo assimétrico, consoante as atividades nele compreendidas, registando-se um maior dinamismo a montante que a jusante da fileira, havendo mercados que surpreenderam pela sua forte progressão, como a Itália, e outros, como a Espanha e o Reino Unido, que, por razões diversas, desapontaram, agravando a tendência de quebra que já se sinalizava em 2017.

Seja como for, há que constatar que o ano de 2018 foi o décimo de crescimento consecutivo,  o mais longo ciclo de expansão de que há registo no sector, atirando as exportações para valores superiores a 5.3 mil milhões de euros, um segundo recorde absoluto consecutivo nas vendas do sector ao exterior.

Se há razões para festejar, há igualmente razões para precaver.

Estamos perante um fim de ciclo de prosperidade, que assentou na convergência de diversos factores positivos, em que pontuaram a boa conjuntura económica mundial e o desvio de tráfico de encomendas do Norte de África e Turquia para Portugal, por razões de natureza política, combinadas com uma positiva mudança de “drivers” na competitividade das empresas, que apostaram na inovação tecnológica, design, serviço e reforço da internacionalização, para se diferenciarem face à concorrência global. Tudo isto parece estar a esgotar-se rapidamente à medida que as exportações vão perdendo gás e se multiplicam as expectativas menos positivas das empresas face ao futuro.

O ano que aí vem, vai ser no mínimo desafiante. Não tem de ser forçosamente negativo e, caso seja de ajuste, não tem de ser dramático nesse processo de rectificação.

As empresas vão ter de se repensar e relançar a discussão interna para refazer as suas estratégias. Não haverá receitas mágicas a propor, até porque cada caso é um caso, cada empresa tem as suas forças e capacidades diferenciadas, que determinarão a forma como enfrentarão as dificuldades com mais ou menos sucesso. Contudo, algo parece inequívoco e incontornável para todas elas: a exigência vai obrigar a mais trabalho, mais rigor, mais esforço na respetiva “governance” e no esforço comercial a realizar à escala interna e externa.

A complacência e a acomodação a velhos hábitos e métodos de trabalho ou a perigosa dependência de um número limitado de clientes, cuja fidelização é sempre uma perigosa ilusão,  podem tornar-se uma armadilha fatal para muitas organizações que não aproveitaram os tempos de bonança para, tal como o país, realizarem reformas internas e se preparem para tempos mais ásperos.

Um outro sector têxtil e vestuário, num outro paradigma, em que pontificam eixos de desenvolvimento novos como a sustentabilidade e a digitalização, está já em processo de formação, onde pontificarão empresas mais competitivas e mais modernas, mais capazes de perpetuar a vocação internacional do sector, mas, simultaneamente, outras haverá, que não percebendo a mudança dos tempos, acabarão vítimas da sua inércia, inoperância e rigidez.

Tal como aconteceu no passado, como irá acontecer no futuro.

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