Dores de crescimento
T26 Novembro 2017

Paulo Vaz

Diretor-geral da ATP e Editor do T
A

ITV está a viver um prolongado período de expansão que promete continuar, de acordo com os últimos indicadores. Mas nem tudo corre de feição. Os problemas de competitividade nacional prevalecem e da resposta a eles depende o futuro do país. Mesmo com as dificuldades conhecidas, nos últimos anos, os drives do crescimento, os fatores críticos de competitividade (inovação, design ou serviço), impuseram-se e determinaram uma evolução positiva. Contudo, podemos estar a chegar ao limite desse esforço.

O custo do dinheiro continua elevado e no acesso ao financiamento a vida continua complicada para quem mais necessita de capital – o stock de crédito às empresas continua em queda: mais de 8%, de acordo com o Banco de Portugal.

O custo da energia e dos encargos ambientais é superior em Portugal a praticamente todos os países da UE, não pela variação do preço do petróleo ou do gás, mas pelos custos adicionais que vêm na factura, destinados a pagar investimentos nas energias alternativas e o défice energético.

Finalmente, se o custo moderado do trabalho constituía o elemento da equação que possibilitava um equilíbrio positivo, também este está ameaçado pela subida exponencial dos últimos anos, por razões de opção política (vide salário mínimo e efeito de arrastamento em toda a grelha salarial das empresas), mas, igualmente, pelo facto de a escassez de mão-de-obra determinar aumentos significativos nos custos com pessoal.

Estas são verdadeiramente as dores de crescimento que o sector está a viver. O sucesso da sua recuperação, nos últimos oito anos, reflete-se agora na dificuldade em manter a dinâmica positiva, especialmente quando falamos do capital humano. Sem pessoas não há empresas – e sem pessoas qualificadas e motivadas não é possível pensar em empresas que crescem e se desenvolvem no sentido desejado: mais valor acrescentado, mais rentabilidade e mais exportações.

Se não conseguirmos enfrentar estes problemas não poderemos continuar a ter a ilusão que a indústria manterá a rota de crescimento de que hoje nos orgulhamos. É uma tarefa comum, que exige entendimento estratégico de todos os seus stakeholders, Estado incluído, com políticas públicas adequadas, elevando a produtividade por via da qualificação de trabalhadores.

Também ao sector lhe compete reagir, procurando no exterior o que não encontra já no país, libertando-se da dogmática anacrónica do nacionalismo produtivo, pois o que importa é que o centro de competências e o domínio do negócio fique em Portugal, deslocalizando para onde for mais conveniente as actividades produtivas que, no nosso território, já não são possíveis desenvolver. Faz parte das dores de crescimento, mas sem a sua superação não há desenvolvimento e nem sequer futuro.

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