Deslocalização? Mais vale tarde do que nunca
T24 Setembro 2017

Braz Costa

Diretor-geral do CITEVE
I

dos vão os tempos em que as duas palavras porventura mais negras do vocabulário industrial português eram “Vale do Ave” e “Deslocalização”: constituíam uma certa representação de um inferno sem respeito pelas pessoas nem pelo ambiente, onde a ITV seria o diabo.

Estes anos passados, já não é comum, nem na capital, ouvir falar em “Vale do Ave” como sinónimo de poluição.
E “Deslocalização”? Esta palavra, outrora representando um belzebu gerador de desemprego, caiu em desuso, tendo tido um pico de utilização exatamente quando mais sentido fazia que Portugal tivesse usado esse instrumento para evitar o apodrecimento de instalações e equipamentos que a concorrência internacional não deixou que fossem competitivos a partir de Portugal. Em boa verdade, a não-deslocalização não salvou empregos em Portugal durante a década passada.

Chegamos agora a 2017, quase duas décadas passadas sobre o dia em que se soube da inevitável abertura do mercado têxtil e vestuário a países asiáticos de mão-de-obra muito barata, e olhamos para as estatísticas do negócio do setor em 2016.

Ora, as linhas representantes da evolução do volume de negócios e da produção nacional são, desde 2000, praticamente paralelas, distando entre si uns regulares 200 milhões de euros. Acontece que em 2016 se afastam notoriamente para distarem uns muito diferentes mil milhões de euros.

Não é minha intenção apresentar neste texto uma análise aprofundada desta divergência, mas tão somente desafiar os leitores para a reflexão.

Do meu lado, estou em crer que:
a) a ITV portuguesa está finalmente a utilizar um instrumento fundamental para a manutenção do negócio têxtil e para o aumento do valor acrescentado em Portugal;

b) a “opinião pública” deixou de ver a deslocalização como um papão de empregos e porventura passou a vê-la como uma estratégia fundamental para a consolidação do negócio Têxtil / Moda / Têxteis Técnicos em Portugal.

Antes tarde que nunca…

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