Crescer ou não, eis a questão
T28 Janeiro 2018

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
O

s indicadores avançados com que a ATP vem trabalhando indicam a continuação de um ciclo de crescimento por mais alguns anos, desde que não se alterem os fundamentos da análise ou que não sobrevenham mudanças significativas ao nível geopolítico e geoeconómico. Tranquiliza saber que os últimos oito anos não só corresponderam ao que tínhamos antecipado, como ultrapassaram as expectativas. Esperemos que tal se volte a verificar, pois os objetivos que temos desenhados para a próxima década são ambiciosos, acreditando na ambição das empresas e em estas quererem efetivamente crescer.

Esta é a verdadeira questão com a qual se joga o futuro da ITV portuguesa: crescimento.

No passado, com uma capacidade instalada sobredimensionada para a procura e com recurso a uma abundância de mão-de-obra relativamente barata, os ciclos de atividade regiam-se pelos ciclos da demanda internacional, ora em baixo ora em cima, sem qualquer outra razão de peso que pudesse vir a influenciar que não fosse o interesse dos clientes, já que todas as demais variáveis eram estáveis.

A mudança de paradigma que o setor sofreu na última década, libertando-se da concorrência exclusivamente pelo preço, incorporando factores críticos de competitividade, como moda, design e inovação tecnológica, para diferenciar produtos e serviços, alterou profundamente o modelo de análise e fez-nos entrar numa zona desconhecida e sem qualquer histórico para comparar.
Há, contudo, algo que temos de considerar nesta nova equação:

1. A capacidade produtiva existente na ITV portuguesa está à beira do esgotamento e não está ainda terminada a depuração do sector, incluindo algumas empresas de referência e de dimensão;

2. O reposicionamento superior na cadeia de valor, embora reconhecido internacionalmente, não se expressa ainda nas margens de comercialização das empresas, pelo que há trabalho e ganhos a realizar neste domínio;

3. Mesmo tendo clientes, mercado, capacidade e potencial, as empresas podem decidir não crescer, por força de constrangimentos na sua base societária e de gestão, ao nível sociológico e psicológico, porque se trata de realizar – ou não – uma vontade, ou em razão de um contexto social e económico que sabemos não é “business friendly”, já que nem o quadro jurídico-laboral, fiscal ou o sistema judicial ajudam, nem a percepção pública do empresário, do seu papel económico e social, ao contrário de outros países, é a mais considerada, uma vez que está condicionada por preconceitos políticos dominantes, desincentivando a atividade empreendedora e, sobretudo, a vontade de expansão, de criar riqueza e emprego. Crescer, ou não, afinal.

Por tudo isto, o futuro da ITV é incerto, mas não necessariamente negativo, pois as preocupações que transporto para estas linhas podem simplesmente esbarrarem na objetividade dos números, especialmente se estes forem claramente positivos, mais do que as nossas melhores aspirações. A ver vamos.

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