Covid-19 e o digital
T52 - Abril 20

João Nuno Oliveira

Industry 4.0 and Digital Transformation Manager do CITEVE
E

ste é (mais) um texto sobre o impacto do “distanciamento social” imposto pela Covid-19 nas empresas. O novo coronavírus mandou pessoas trabalhar a partir de casa, obrigou-as a ficarem confinadas nos seus gabinetes, a não se cruzarem nos corredores e a trabalharem em turnos distintos. Mas o impacto não foi só na faceta profissional de cada um, ocorreu também na vertente familiar, com, por exemplo, os filhos a manterem os seus estudos sem se deslocarem às escolas.

O distanciamento social foi igualmente seguido pelos consumidores e com um enorme impacto na economia, com os hábitos de compra a mudarem como nunca se tinha visto. As compras online registaram um enorme aumento, muitos produtos ficaram nas prateleiras, e muitos serviços reformataram-se, como a restauração, que passou para o regime de take-away e serviço de entregas ao domicílio, ou as aulas de ioga, que passaram a ser ministradas à distância. A par do distanciamento social, temos agora também uma economia e uma sociedade de não-toque. Não queremos tocar em nada, seja em portas, corrimões, botões, copos ou casacos.

Terá a tão propagada transformação digital tido um forte empurrão com este confinamento? Sem dúvida. O isolamento fez com que toda a comunicação, colaboração e coordenação, passassem a ser integralmente mediadas por ferramentas digitais. Foram-se as reuniões presenciais, as conversas de corredor ou de café, os mapas e os relatórios em papel. Chegaram as videoconferências, as VPN, as clouds, as partilhas de ficheiros e o cibercrime. Mas também deixamos de presenciar as operações e os eventos, deixamos de poder ir aos locais “ver o que se passa”. Uma grande parte da perceção que temos do nosso mundo passou a ser mediada digitalmente. Por outro lado, muitos negócios tiveram que recorrer ao suporte de plataformas digitais para escoar os seus produtos e continuar a prestar os seus serviços.

É óbvio que fazer videoconferências e partilhar ficheiros não é fazer a transformação digital, mas este cenário obrigou as empresas a colocar o digital no centro das suas atenções e a colocar pressão em todas as áreas da empresa. E também levou os membros das administrações e da gestão de topo a trabalhar à distância, sentindo em experiência própria as restrições do não-digital e o potencial do digital.

O “quando isto tiver passado” não vai acontecer tão cedo e o “tudo vai voltar ao normal” não vai acontecer, pois o mercado não vai ser o mesmo e nós não vamos ser os mesmos. O futuro deverá ser tratado em três horizontes temporais: o daqui a um mês, o daqui a um ano e o depois disso. E todos eles a começar agora.

O próximo mês é o tempo de procurar sair de casa, sabendo que as restrições são quase as mesmas. O foco é garantir o acesso à informação a partir de qualquer local e dispositivo e, de forma segura, investir em plataformas de trabalho em grupo, numa cultura de teletrabalho, bem como no reforço da presença online da empresa, aumentando a capacidade de resposta digital.

No próximo ano, começar por definir uma estratégia digital e dar os primeiros passos, agora que há uma sensibilidade digital maior. Apostar na eliminação do papel, experimentar coisas novas e, se estas tiverem sucesso, implementar na empresa.

No horizonte temporal mais alargado, será o tempo de cimentar os progressos, olhando em permanência para pessoas, e de procurar a excelência e a flexibilidade.

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