CONVENÇÃO ITMF REGRESSA AO PORTO
T36 Outubro 18

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
A

s convenções que as organizações internacionais representativas do sector realizam anualmente, nomeadamente, a IAF ( International Aparel Federation ), A EURATEX e a ITMF ( International Textile Manufacturers Federation ), às quais a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal pertence, são uma oportunidade soberana para se atualizar conhecimento e se antecipar as grandes tendências que vão marcar a indústria nos próximos anos.

A recente conferência da ITMF, em Nairobi, ofereceu como grandes conclusões a consolidação do domínio chinês sobre o negócio global do têxtil, que domina com quota superior a 40%, sendo que os grandes investimentos em equipamento e tecnologia são ainda mais superlativos enquanto indicador.

O salário médio de um operário têxtil na China ronda agora os 600 euros mensais e está a tornar-se demasiado caro para uma indústria que baseia a sua competitividade no preço e na massificação das produções, razão pelo qual os grandes conglomerados chineses estão a investir de forma intensa nos países vizinhos ou próximos, como o Vietname, o Laos, o Camboja ou o Bangladesh, e  outras geografias como a Etiópia ou o Quénia, aproveitando os baixos salário locais – entre 40 a 110 dólares mensais. Era previsível que tal sucedesse; não era previsível que sucedesse tão depressa.

Outra das macrotendências tem que ver com a previsível estagnação da produção e consumo de algodão, de maneira global, compensadas pelo crescimento das fibras artificiais, como a viscose e, sobretudo, o poliéster. Todos os gráficos coincidem com o disparar do poliéster nos próximos vinte anos, única matéria-prima – com produção concentrada na China – que poderá corresponder ao crescimento do consumo no mundo. Em menos de vinte anos um chinês consumirá mais quilos de têxtil e vestuário por ano que um americano e um europeu, o que produzirá um novo paradigma de oferta e procura, relativamente ao qual continua persistir uma relativa ignorância – ou negação – dos “skateholders” da indústria e menos ainda pensamento estratégico para o enfrentar.

E se a sustentabilidade domina o léxico da têxtil, levando mesmo a algumas iniciativas que pretendem combater a “audit fatigue” (fadiga das auditorias das marcas), que mais não fazem do que assegurar hipocritamente a sua desresponsabilização, a digitalização da indústria saltou para o topo das preocupações das empresas, pois está-se a entrar num terreno nunca percorrido, que oferece grandes oportunidades, mas igualmente, na mesma proporção, riscos, muitos dos quais poderão ser fatais para as empresas, mesmo aquelas que sobrevivem há diversas gerações.

Por esta razão e porque era fundamental voltar a trazer o Congresso ITMF para a Europa, em especial para Portugal, hoje visto como um “case study” internacional de uma indústria que conseguiu encontrar novos “drives” de desenvolvimento para ressurgir, a ATP candidatou-se com sucesso à organização da Convenção em 2019, a qual terá lugar no Porto de 20 a 22 de Outubro. Trata-se da terceira vez que o Congresso ITMF é realizado pela Associação ( em 1969 e 1993 designava-se ANITAF ), tendo igualmente a ATP sido escolhida para organizar, num curto espaço de sete anos, os três grandes congressos que marcam o sector à escala planetária, como foram o da IAF (2012), da Euratex (2017) e será o da ITMF no ano que vem, como corolário de um intenso trabalho para recolocar a ITV portuguesa no “mapa” do têxtil e vestuário global, desta vez posicionada superiormente, não pela dimensão, mas pela inovação tecnológica, pelo design e pelo serviço.

Um evento que será “world class” e no qual o sector em Portugal deverá participar ativamente. Nisso confiamos.

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