Consumidores ou espectadores?
T40 - Fevereiro 19

José Cardoso

Membro do Conselho
Fiscal da ATP
F

alando de tendências e comportamentos, fica por vezes a ideia de que estarmos a dar demasiada importância ao desenvolvimento das ferramentas de análise em detrimento das emoções e das pessoas com as quais se pretende comunicar. Vamos, por isso, retirar a palavra consumidor e substitui-la pelo conceito de espectador.

Pode parecer estranho mas faço isto tendo em consideração que esta palavra, por demais usada, que descreve quem consome não identifica quem atualmente compra produtos ou serviços. A abordagem para com estas audiências, que se pretende estarem disponíveis para serem sensibilizadas, passa de há décadas a esta parte por expor estórias que de uma forma ou de outra estão associadas a produtos, sendo convicção geral que essas estórias narradas de diferentes formas ou meios garantem a diferenciação do produto face aos demais. Será que é assim?

Nos últimos 100 anos pudemos acompanhar a evolução deste conceito e seguramente lidamos hoje com espectadores mais atentos, informados, quase diria saturados, pela avalanche de dados. Mudam-se as imagens utilizadas mas ficam as questões e formas desta guerra já antiga, algo que impera em todos os sectores e mais ainda nos meios de comunicação, com quem eu estou certo muito temos que aprender.

Assumindo esta comparação com os meios de comunicação voltamos a esta palavra tão atual a omnicalidade. Os espaços físicos adaptaram-se a novas necessidades, as redes sociais funcionam, mas em que é que isto é diferente do que se faz nos outros sectores?

A possível resposta remete-nos para o facto de sermos seres emocionais e neste contexto os momentos de convívio são fundamentais. A experiência partilhada continua a ser a mais memorável, momentos que nos fazem sentir humanos e destacam a influência dos grupos, comunidades e culturas.

Os espaços comerciais são parte dessa zona de partilha, dessas experiencias conjuntas que evoluem segundo os critérios de cada época. E assim o farão tal como fizeram os jornais e todos os demais meios de comunicação.

Adaptar não significa extinguir, estamos no meio de um novo processo evolutivo e temos que recordar que muitas das nossas decisões são por empatia, a racionalidade nem sempre é a norma mais presente nos nossos atos.

Por essa razão passamos de consumidores e de perfis sob análise constante para espectadores do que se está a tornar o maior espetáculo do mundo e, acreditem, apesar de toda a sofisticação tecnológica e de tudo o que nos comunicam, que aparentemente é uma forma de evolução, continuamos a ser o centro de todas as atenções.

Meus senhores e minhas senhoras, acredito que valerá a pena ver o que mais vão dizer e seguramente apresentar para nos cativar e como vamos cativar os demais. Entretanto, e como nos mostram os números por detrás de tudo isto, não percam os próximos episódios. Quanto ao final, está ainda por escrever. Temos muitos guionistas e muitas opções mas a série ainda está no início.

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