Coisas do “diabo”
T52 - Abril 20

José Robalo

Presidente da Anil
D

urante muito tempo, na nossa praça pública, foi discutida a vinda, ou não, do “diabo”, e afinal, parece que este está à espreita atrás do Coronavírus.

A pandemia que é vivida actualmente, no meio de todos os seus infortúnios, tem revelado aspectos curiosos da nossa sociedade.

É de consenso geral que o vírus afecta, de forma transversal, grandes e pequenas empresas, sector público e sector privado, países ricos e países pobres, não querendo saber de patentes e galões.

No entanto, tem sido opinião de muitos influentes opinion makers que o pós-vírus, diga-se, a crise económica que se lhe seguirá, só afectará o sector privado. Aparentemente, parte-se do princípio de que o sector público já desenvolveu uma imunidade no que diz respeito a crises económicas.

Parece-me que o sector público se encontra numa situação semelhante à dos tais  doentes assintomáticos que, se não cumprirem as regras que os outros cumprem, habilitamo-nos a que toda a sociedade se infecte e colapse, falando numa linguagem médica, que tem estado tanto em voga.

Contudo, e mais seriamente, é de forma apreensiva que encaro esse tipo de previsões. Muitas destas análises, feitas por pessoas que estão perto do poder, indicam como inevitável um aumento da carga fiscal para o sector privado. A verificar-se este cenário, temo pelo futuro da economia portuguesa, dado que a carga fiscal hoje existente já é asfixiante e injusta para as empresas, e desincentivante para o investimento e para o empreendedorismo.

Assim, não havendo grandes dúvidas acerca da recessão económica que já se começa a fazer sentir, é fundamental, para não dividir a sociedade, que o Estado dê também o exemplo, e não apenas se limite a sobretaxar, aumentando os impostos.

Há outras soluções e medidas que podem ser tomadas de protecção das empresas e dos seus postos de trabalho. Não podemos esquecer que, em última análise, são as contribuições do sector privado,  maioritariamente PME’s, que contribuem para a criação de emprego e coesão social, logo, para a viabilização económica do Estado.

Querer que o sector privado suporte sozinho a crise que se adivinha é matar a famosa galinha dos ovos de ouro, acabando por condenar, inevitavelmente, todo o país a uma insolvência como a que vivemos há poucos anos.

Bem sei que são apenas previsões de comentadores políticos que, muitas vezes, tendem para o sensacionalismo mas, não é menos verdade que, como o povo diz (aliás, o melhor dos comentadores), gato escaldado de água fria tem medo.

Será caso para dizer, falando da Indústria Têxtil que o “diabo” não veste Prada?

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