A ITV portuguesa é uma “early adopter” da indústria 4.0
T21 Junho 2017

Braz Costa

Diretor-geral do CITEVE
N

ão se vê ultimamente texto sobre estratégia ou sobre inovação que não repita de forma sublinhada a expressão “Indústria 4.0” (i4.0).

Está na moda, é muito trendy, o que leva a que um pouco por todo o mundo (especialmente na Europa) se force a utilização destas expressões, mesmo que a despropósito ou de forma completamente desprovida de sentido.

Por este motivo, ganhei o hábito de perguntar o que o interlocutor entende afinal por Indústria 4.0 para perceber como dosear a atenção que dou ao que me vão dizendo sobre o assunto.

Acreditem que funciona!

Também se fala em i4.0 como sendo algo radicalmente novo (para além do nome), algo que ainda ninguém tinha visto. A verdade é que basta pôr os pés nas indústrias Têxtil e do Vestuário para facilmente se perceber que os princípios i4.0 subjazem a uma grande parte da evolução mais recente do sector, particularmente em Portugal.

Não tem o sector feito outra coisa do que ‘digitalizar-se’ para reduzir tempo e uso de mão de obra. Quem não se lembra da moda introduzida no início dos anos 2000: “Quick Response”?
Poderá a ITV portuguesa alhear-se da digitalização da indústria? Claro que não. O futuro não admite que se pare de adotar métodos e tecnologias que reduzam tempo e utilização de recursos. A ITV portuguesa, perante o cenário competitivo em que se encontra, só pode comportar-se como ‘early adopter’ da i4.0.

Por isso me preocupa o facto de a evocação em vão da i4.0 poder desfocar a indústria da sua verdadeira essência e importância para o futuro da sua própria competitividade.

Menos certezas há sobre se a ITV portuguesa se quedar por ser ‘early adopter’, ou se não terá Portugal conhecimento e sabedoria para prescrever, para desenvolver e para vender soluções de digitalização da ITV.

Como sei que há construtores ‘premium’ de bens de equipamento e de sistemas de gestão focados na ITV a recorrer a empresas portuguesas para os ajudar, em geral gratuitamente, na especificação, no desenho, no desenvolvimento e refinamento dos seus produtos, só posso concluir que sim.

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