A incerteza é a única coisa certa
T16 Janeiro 2017

Paulo Vaz

Diretor-Geral da ATP e Editor do T
O

ano de 2017 inicia-se num quadro de incerteza acrescida, que nos obriga a um exercício de maior prudência e de gestão de expectativas, com que não contávamos há um ano atrás.

O fenómeno da globalização, que vimos desenvolver-se de forma imparável desde os anos 80, chega à sua primeira crise, produto da insatisfação de extensas franjas da população mundial que se sentiram excluídas dos seus benefícios. Nos países ricos mais do que nos países em desenvolvimento.

O principal efeito desta reação está na emergência de movimentos extremistas, de esquerda e de direita, na Europa e nos Estados Unidos, em que, em alguns casos, se puderam alcandorar ao poder, como foi o caso da Grécia, da Hungria e da Polónia, assim como o “Brexit”, no Reino Unido, ou a eleição de Trump para a presidência dos Estados Unidos. E até Portugal também teve a sua particularidade, que não vale a pena desenvolver nestas linhas.

Nada disto era previsível ou desejável, mas também convém não simplificar ou dramatizar a situação, comparando esta vaga de desfechos anti-sistema com o que sucedeu com a Europa antes da II Grande Guerra. São fenómenos diversos e determinados por causas diversas, pelo que as suas consequências não podem sequer ser similares.

Também aqueles que esperam que a globalização possa ser interrompida ou se produza um processo de retrocesso estão igualmente enganados. A globalização é o resultado combinado do desenvolvimento das tecnologias de informação, com a liberdade de circulação de pessoas, capitais e mercadorias, mas, mais importante que isso, de ideias.

Os povos de uma maneira geral, independentemente dos regimes políticos a que se acham submetidos, beneficiaram efetivamente com a liberdade e facilidade de acesso a bens e serviços como nunca dantes na História, numa lógica de metademocracia, pelo que a ordem geopolítica, social e económica mundial, entraria em colapso imediato se tal se precipitasse numa reversão. A globalização impôs-se contra a vontade política dos Estados e assim permanecerá, pois escapa à sua lógica e controlo, por muito que a retórica moderna de alguns líderes assim pareça apontar, esgotando-se esta nos efeitos eleitoralistas e no exercício populista da política, que, nos tempos atuais, encontra audiências mais disponíveis, mas pouco mais do que isto.

E ainda bem! Para uma Indústria Têxtil e Vestuário, como a portuguesa, que exporta 75% do que produz, sendo que os restantes estão na cadeia de valor que igualmente vende ao exterior, qualquer notícia que venha a implicar protecionismo por parte dos mercados de destino dos nossos produtos e serviços será sempre uma tragédia, pelo que se percebe mal quem ainda, entre nós, exija o fecho das nossas fronteiras a produtos estrangeiros, já que se esquecem que a reação óbvia e imediata seria o bloqueio dos respetivos mercados também aos nossos.

2017 afigura-se, portanto, difícil, instável e imprevisível. Mais do que foi 2016. Para esta indústria que lida com a incerteza como a única coisa que é certa, trata-se apenas de estar pronta a enfrentar um quadro mais desafiante, mas ainda assim capaz de ser superado. Como é habitual dizer-se: estarmos à espera do melhor e preparados para o pior, pois quando se tem este estado de prevenção, os resultados são invariavelmente melhores do que os aguardados.

É nisso que confio!

Bom ano!

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