A golpada não sustentável
T2 outubro 2015

José Robalo

Presidente da ANIL
N

os últimos dias fomos surpreendidos com as notícias vindas a público de que um grande construtor automóvel alemão fazia batota, isto é, arquitectou um esquema para falsificar os valores das emissões de gases provenientes da combustão dos seus motores para que os seus modelos pudessem circular, tanto na Europa como nos EUA, onde se supõem haver um apertado controlo sobre as emissões dos gases provenientes da circulação automóvel.

A reacção do público e das autoridades foi, em geral, de estupefacção e incredibilidade, nunca se pensando que uma empresa de referência pudesse usar expedientes criminosos, demasiado elaborados e com recurso a tecnologia de ponta para contornar a lei.

Mas será que ficámos mesmo todos surpreendidos por esta notícia, ou apenas alguns? É que, segundo alguns meios de comunicação social, nos bastidores, este expediente era já conhecido há algum tempo, e poderá ser, inclusive, utilizado por outros construtores.

Como homem da Têxtil, que sou, não posso deixar de fazer um paralelo entre este expediente criminoso e o que se passa no nosso sector nas importações de têxteis da Ásia que também não cumprem as regras de protecção ambiental a que a Europa obriga.

É que o sector automóvel foi considerado sector chave para a economia europeia e o sector têxtil foi moeda de troca para que automóveis feitos na Ásia não tivessem entrada na Europa, apontando-se como uma das causas, os elevados índices poluentes daqueles produtos, não cumprindo assim, as normas europeias que, supostamente, todos deveríamos respeitar.

Se, no caso da Volkswagen, o prejuízo é principalmente ambiental, no caso da Têxtil, além dos atentados ambientais globais durante as fases de produção, as ameaças à saúde pública originadas pelo uso de produtos tóxicos,  em contacto directo com o consumidor é um problema agravado. São exemplos de produtos proibidos na Europa alguns metais pesados, aminas aromáticas e POP (Poluentes Orgânicos Persistentes), aliás, enumerados de forma rigorosa no regulamento europeu REACH  (Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemical Substances), e que são frequentemente encontrados nos produtos importados.

Não é necessário ser um expert na matéria, basta o senso comum para se perceber que, no caso dos automóveis, os óptimos desempenhos dos motores têm como reverso da medalha elevados níveis de poluição. Na Têxtil, o baixo preço dos produtos importados tem também como reverso da medalha a utilização de substâncias mais baratas, muito mais poluentes e perigosas.

Entretanto, a Europa vai fechando os olhos, não fazendo o mínimo esforço de controlo às importações, aliviando a sua consciência ecológica com a elaboração de regras e programas rigorosos de desenvolvimento sustentável e protecção ambiental.

Por fim, o consumidor europeu interroga-se sobre o que fazem as ONG europeias…

Será necessária a vinda de uma ONG americana para analisar as importações têxteis para que mais uma mentira seja “descoberta” e denunciada?

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