2019: Um ano de incertezas e intranquilidade
T41 - Março 19

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
O

ano de 2019 vai ser mais exigente do que se previa, especialmente por ser mais incerto, dependente de mais variáveis de difícil avaliação e de conjunturas de impossível previsão.

À escala global, os reajustamentos geopolíticos continuarão a produzir-se, muitas vezes de forma errática e aparentemente sem sentido, mas, entre os quais, se sobressairá a paciente e determinada estratégia da China. De todas as potências mundiais é a única que tem o tempo a jogar a seu favor, pois projeta a prazo, sem se esgotar na pressa de uma legislatura e nem sequer na de uma geração.

Pelo contrário, apesar do permanente ruído que Donald Trump imprime à América contemporânea, convencido que lhe está a recuperar grandeza e protagonismo, a verdade é que os EUA estão a caminhar inexoravelmente para a decadência. Rússia e Turquia, por outro lado, afirmam-se como potências regionais, ameaçando territórios vizinhos e de histórica influência, gerando focos de tensão que pareciam impossíveis ainda há breves anos.

A própria Ásia, que nos surge distante, nos noticiários e na compreensão, não neutralizou ainda os focos de tensão que a tornam a região mais instável e perigosa do mundo, na qual pode, de um momento para o outro, despoletar um conflito de impacto global.

Na Europa, as coisas não vão correr melhor. Com a fragmentação do poder e o enfraquecimento da liderança dos seus países charneira, a França e a Alemanha, a que acresce a trapalhada do “Brexit” e a emergência de governos populistas, a União Europeia tem dificuldade em encontrar não apenas um rumo político comum, mas um crescimento económico sólido e sustentado, e não está a conseguir sequer disfarçar o seu declínio e a sua irrelevância global.

Três gerações após a II Guerra Mundial e as suas atrocidades, as nações parecem dispostas a esquecer as lições do passado e arriscarem-se a repetir a História. Em 2019, as eleições europeias vão determinar um novo mapa de poder no Parlamento da U.E., que fará diminuir o peso dos tradicionais grupos políticos e fazer chegar um maior número de pequenos partidos desalinhados, e até extremistas, a Bruxelas e Estrasburgo, criando ainda mais instabilidade, incerteza e imponderabilidade, ou que, por outras palavras, significará mais ingovernabilidade.

Em Portugal, o passeio triunfal que António Costa se aprestava a realizar, a caminho de uma nova legislatura, embora não se encontre comprometida, será mais difícil do que, por ventura, se imaginava.

Há algo que deverá ser ponderado com cuidado nos cenários que se vierem a desenhar: o primeiro advirá dos resultados das eleições europeias de 26 de Maio próximo e a segunda do que será o comportamento da economia portuguesa e mundial ao longo do ano, uma vez que os portugueses protestam com o coração, mas votam com o bolso.

António Costa é um político afortunado que tem vindo a surpreender tudo e todos. Contudo, nem o mais bafejado estadista da História poderá vergar os ventos quando eles começam a ser contrários, até porque muito do que deveria ter sido feito em tempos de bonança será impossível de concretizar em tempos de tormenta, como os que se avizinham…e 2019 será tudo menos um ano de tranquilidade!

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