T50 - Janeiro
Fevereiro 20
Corte & costura

Júlio Magalhães

O evento certo
O Portugal Fashion tem conseguido levar a moda nacional além-fronteiras com dignidade e elegância
Katty Xiomara

"É difícil quantificar o valor do design, porque os designers parecem inacessíveis e porque somos avaliados através de uma passarela. Devia existir mais cooperação e intercâmbio de valências, coletivismo será a palavra de ordem nos próximos tempos", revela a designer

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a tua qualidade de estilista consagrada da moda nacional como sentes que evoluiu a imagem da nossa têxtil no plano internacional nas últimas duas décadas?

A indústria têxtil nacional tem enfrentado inúmeros desafios ao longo destas duas décadas e demostrou uma grande tenacidade e capacidade de superação, evoluindo apesar das exigências e volatilidades do mercado. No plano internacional a imagem da nossa têxtil está bem pontuada: temos qualidade, versatilidade, rapidez, acessibilidade e proximidade e temos conseguido adaptar-nos às exigências sustentáveis. Contudo, os próximos tempos trazem-nos outros desafios, entre eles a urgente necessidade de renovar e qualificar técnicos.

O que faltaria para que um dia uma colecção de uma marca de autor como a tua pudesse atingir um volume de vendas mais significativo em termos de exportações?

Falta acreditar no poder da criatividade e investir nela. O design é o elemento diferenciador que pode traduzir a nossa herança em algo cobiçável e apetecível. Isto aliado a capacitação técnica que já demostramos perante o mundo, poderia ser a vacina perfeita contra os pequenos volumes de vendas. Mas também um potenciador do título Made in Portugal alavancando o valor da nossa indústria e elevando-a a um outro patamar.

Como avalias o papel desempenhado pelo Portugal Fashion na promoção da moda portuguesa?

É um meio de divulgação com um teor glamoroso necessário. O Portugal Fashion tem conseguido desmistificar a moda nacional levando-a além-fronteiras com dignidade e elegância. Este é um caminho que devemos continuar a percorrer e não permitir que se feche. Mais do que o “chegar, ver e vencer”, necessitamos também ficar. Ficar na memória, no armário, no ouvido… e para isso precisamos que Portugal (nação) acredite no seu potencial. 

Como analisas no tempo actual a colaboração entre a comunidade criativa a que pertences e a comunidade de produção industrial? 

Existe uma nova geração que apostou na formação interna dos seus elementos e assim traçam um novo percurso. Mas para a dimensão da nossa indústria, essa aposta ainda é tímida e comedida. Sobretudo, creio, porque é difícil quantificar o valor do design, porque os designers parecem inacessíveis e porque somos avaliados através de uma passarela. Devia existir mais cooperação e intercâmbio de valências, coletivismo será a palavra de ordem nos próximos tempos.

Durante 50 edições do T brindaste os nossos leitores com desenhos e prosas de grande perspicácia e humor. Qual foi a que gostaste mais de fazer?

Essa é difícil… fazer estas últimas páginas do T é uma espécie de fórmula para combater o stress. Uma vez por mês tenho de pensar numa nova vítima, em novas fatiotas e numa nova forma de contar a história. Este exercício tem sido regra geral muito divertido, salvo raras exceções em que levei a coisa mais a sério e desabafei, como aquela vez em que despi, até não ficar mais do que umas tangas coloridas, os mais polémicos dirigentes mundiais. Essa edição foi especial porque eu própria despi-me de ironias… Mas no registo “normal” desta rúbrica, foi especialmente divertido vestir o comendador Joe Berardo com leds, arnês e cota de malha em ouro.

Perfil

Katty Xiomara, 45 anos. Estilista, apresentou aos 22 anos, ainda estudante, a sua primeira colecção no Portugal Fashion (1996) e nunca mais parou. Presença assídua nas passarelas, não só em Portugal mas também nas grandes capitais da moda, tem coleccionado prémios e distinções um pouco por todo o mundo. Pelo seu atelier, na Rua da Boavista, no Porto, têm passado as mas prestigiadas revistas e críticos de moda internacionais e até o Presidente da República Cavaco Silva ali esteve no âmbito da sua visita pelas indústrias criativas de excelência

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