Para além de seduzir com a comida, sendo que nenhum produto, alimento ou ingrediente aparece no prato como veio ao mundo, a vista sobre a cidade do Porto só aumenta a perfeição da experiência gastronómica do Yeatman
O Yeatman, o consagrado restaurante de Gaia que também dá nome ao Hotel que o alberga, orgulha-se de ostentar a segunda Estrela Michelin, que é a única que actualmente brilha em duplicado no Grande Porto. Apesar desse facto indesmentível, gostaria de acrescentar que não são as únicas de que é obrigatório falar se queremos falar do Yeatman.
Ainda recentemente tive o prazer de lá almoçar, mas recordo-me muito bem da última vez em que o pôr-do-sol ainda acontecia à hora do jantar. Não garanto que o resultado gastronómico seja influenciado decisivamente por esta alteração, mas se é a excelência que queremos experimentar, faz toda a diferença. Foi em Setembro que conheci esse momento único. Lembro-me bem que estava com um grupo de europeus de várias nacionalidades, ligados ao têxtil, e que o deslumbramento foi generalizado.
Gabo-me de conseguir manter todos os sentidos em estado de alerta em ocasiões assim e por isso devo ter sido um dos poucos convivas a ser capaz de tirar partido dos magníficos aperitivos, sem tirar o olho da vista. Já sabia que é de Gaia que se gosta do Porto com mais facilidade, mas agora sei que é sempre possível gostar mais de quem já se ama tanto.
Posto o sol em sossego começam a dar sinal de vida as outras estrelas com que o Yeatman consegue viver. As da Michelin. Num desassossego permanente. Não me lembro de um único produto, alimento ou ingrediente que apareça no prato como veio ao mundo.
Tudo começa com as boas vindas do Chefe Ricardo Costa, que na época em que recebeu a primeira estrela tinha 33 anos, a idade de Cristo crucificado, mas que ainda anda por cá a fazer milagres de bom gosto, graças a Deus.
Este amuse bouche é ele (ou alguém por ele) que nos diz de que é composto e nós acreditamos.
O desfile do que se segue gostava de tentar descrever, mas em vão, porque tal como a vista da varanda, isto só visto.
Há restaurantes assim, em que o nosso paladar é desafiado com a mesma força que a nossa imaginação. A ementa não é pior que o resultado, mas já deixa perceber que a aventura começa no pedido. Para continuar pela refeição fora, em que perderemos a noção do tempo, se não quisermos perder a hipótese de pedirmos tudo aquilo a que temos direito num menu degustação.
Até aos mimos finais que atacam com o café antes de pedirmos a conta, quando normalmente já perdemos a conta do que pedimos. É altura de pensarmos, perdidos por cem, perdidos por mil… Mas não se assustem que o caso também não é assim tão grave. O que nos é caro, nunca sai barato.
Nos vinhos e outros néctares encabeçados pelo Vinho do Porto ficam a saber que existe uma conspiração montada com a colaboração de muitas das melhores castas dos produtores nacionais. A que o Hotel The Yeatman muito deve e a quem se deve uma carta de vinhos e vinhos do Porto como nunca tinha visto. Com a possibilidade, que recomendo, de poder tomar a copo vinhos que na maior parte dos sítios nem em garrafa existem.
Os clientes que ficam no hotel, juntam essa felicidade à sorte de poderem provar sem medo. Os outros deverão fazer-se acompanhar de motorista ou confiar num taxista bem informado que o Yeatman vê-se bem do Porto, mas não se vê tão bem a maneira de lá chegar por via terrestre.
Rua do Choupelo
4400-088 Vila Nova de Gaia